sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

AMANHECER CAPITULO 15

 15 – TICK, TOCK, TICK, TOCK, TICK, TOCK
Hey, Jake, pensei que você tivesse dito que me queria aqui ao anoitecer. Porque você não
fez Leah me acordar antes dela pegar no sono?
Porque eu não precisei de você. Eu ainda estou bem.
Ele já estava indo para a metade norte do círculo. Alguma coisa?
Não. Nada além de nada.
Você procurou alguma coisa?
Ele percebeu que eu tinha me desviado um pouco do caminho. Ele dirigiu à trilha nova.
É – eu dei umas voltinhas. Você sabe, só pra checar. Se os Cullen vão fazer uma viagem
para caçar...
Boa idéia.
Seth fez uma volta para voltar ao perímetro principal.
Era mais fácil correr com ele do que fazer a mesma coisa com Leah. Apesar dela estar
tentando – tentando muito – havia sempre algo em seus pensamentos. Ela não queria estar aqui.
Ela não queria sentir a mesma afeição aos vampiros que havia em minha cabeça. Ela não queria
lidar com a amizade próxima que Seth tinha com eles, uma amizade que só estava ficando mais
forte.
Engraçado, no entanto, que eu tinha pensando que o maior problema no mundo pra ela era
eu. Nós sempre enlouquecemos um ao outro quando estávamos no bando de Sam. Mas agora não
havia absolutamente nenhum antagonismo dirigido a mim, só aos Cullen e Bella. Eu queria saber
porque. Talvez fosse simplesmente gratidão por eu não estar forçando ela a ir embora. Talvez
fosse porque agora eu entendia melhor a hostilidade dela. Fosse o que fosse, correr com Leah não
era nem um pouco tão ruim quanto eu havia esperado.
É claro, ela não havia melhorado tanto assim. A comida e as roupas que Esme tinha
mandado para ela estavam todos fazendo uma viagem rio abaixo agora. mesmo depois de eu ter
comido a minha parte – não porque o cheiro era praticamente irresistível fora do cheiro dos
vampiros, mas para dar um bom exemplo de auto-sacrifício e tolerância a Leah – ela recusou. O
pequeno alce que ela comeu por volta do meio dia não tinha satisfeito seu apetite. Mas deixou o
seu humor pior ainda. Leah odiava comida crua.
Talvez devêssemos correr um pouco ao leste? Seth sugeriu. Ir fundo, ver se eles estão
esperando por lá.
Eu estava pensando nisso, eu concordei. Mas vamos fazer isso quando estivermos todos
acordados. Eu não quero baixar nossa guarda. Mas nós devíamos fazer isso antes que os Cullen
tentem. Em breve.
Certo.
Isso me fez pensar.
Se os Cullen fossem capaz de sair da área em segurança, eles realmente deviam seguir em
frente. Eles provavelmente deviam ter escapado no momento que nós fomos avisá-los. Eles
tinham que ter outra forma de escapulir. E eles tinham amigos ao norte, certo? Pegar Bella e fugir.
Essa parecia ser a resposta óbvia para os problemas deles.
Eu provavelmente devia sugerir isso, mas eu estava com medo que eles me dessem ouvidos.
E eu não queria que Bella desaparecesse – nunca ficar sabendo se ela tinha conseguido ou não.
Não, isso era estupidez. Eu os diria para ir. Não fazia sentido eles ficarem, e isso seria
melhor – não menos doloroso, mas mais saudável – para mim se Bella fosse embora.
Era fácil dizer isso agora, quando Bella não estava lá, parecendo toda feliz em me ver e se
agarrando à vida com as unhas ao mesmo tempo...
Oh, eu já perguntei a Edward sobre isso, Seth pensou.
O que?
Eu perguntei porque eles não havia escapado ainda. Ido para a casa de Tanya ou algo
assim. Algum lugar longe demais pra que Sam fosse atrás dele.
Eu tive que lembrar a mim mesmo que eu tinha decidido dar aos Cullen esse mesmo
conselho. Isso era o melhor. Então eu não devia estar bravo com Seth por ter tirado a tarefa das
minhas mãos. Nem um pouco bravo.
Então o que ele disse? Eles estão esperando uma brecha?
Não. Eles não vão partir.
E isso não devia parecer uma boa notícia.
Porque não? Isso é estúpido.
Na verdade não, Seth disse, agora na defensiva. Leva algum tempo pra construir o tipo de
acesso médico que Carlisle tem por aqui. Ele tem todo tipo de coisa que precisa para cuidar de
Bella, e as credenciais para conseguir mais. Esse é um dos motivos pelos quais eles querem fazer
uma viagem de caça. Carlisle acha que eles vão precisar de mais sangue para Bella em breve. Ela
está usando todo o O negativo que eles estocaram para ela. Ele não gosta de saquear o banco de
sangue. Ele vai comprar mais um pouco. Você sabia que se pode comprar sangue? Se você for
médico.
E ainda não estava pronto para ser lógico. Ainda parece estupidez. Eles podiam levar a
maioria das coisas com eles, certo? E roubar o que precisassem onde quer que eles fossem. Quem
se importa com essa baboseira legal quando se é imortal?
Edward não quer se arriscar a tirá-la do lugar.
Ela está melhor do que antes.
Bastante, Seth concordou. Na cabeça dele, ele estava comparando minhas memórias de
Bella pregada nos tubos e a última vez que ele tinha visto ela antes de sair da casa. Ela sorriu para
ele e acenou. Mas ela não pode se mover demais, sabe. Aquela coisa está chutando ela até não
poder mais.
Eu engoli o ácido estomacal da minha garganta. É, eu sei.
Quebrou outra costela dela, ele me disse sombriamente.
Meu passo diminuiu, e eu cambaleei um passo antes de retomar a ritmo.
Carlisle enfaixou ela de novo. Só mais uma parte, ele disse. Então rosalie falou alguma coisa
sobre como até os bebês normais são conhecidos por quebrarem costelas. Parecia que Edward ia
arrancar a cabeça dela.
Que pena que ele não fez isso.
Seth estava com o plantão de notícias ligado – sabendo que tudo era vitalmente interessante
pra mim, mesmo eu não tendo pedido pra ouvir. A febre de Bella diminuiu e aumentou o dia
inteiro. Só pequenas alterações – suores e depois calafrios. Carlisle não tem certeza do que fazer
sobre isso – ela pode simplesmente estar doente. O sistema imunológico dela deve estar sem
forças agora.
É, eu tenho certeza que é só uma coincidência.
Mas ela está de bom humor. Ela estava conversando com Charlie, rindo e tudo mais –
Charlie! O quê?! O que você quer dizer com ela estava conversando com Charlie?!
Agora o passo de Seth falhou; minha fúria o surpreendeu. Eu acho que ele telefona todos os
dias para conversar com ela. Às vezes a mãe dela também liga. Bella parece estar muito melhor
agora, então ela estava assegurando ele que estava melhorando –
Okay. Seth não fez outros comentários. Ele ficou bastante concentrado na floresta vazia.
Eu mantive meu curso ao sul, procurando alguma coisa nova. Eu dei a volta quando avistei
os primeiros sinais de habitação. Ainda não estava perto de nenhuma cidade, mas eu não queria
recomeçar boatos sobre lobos. Agora já estávamos bonzinhos e invisíveis a um bom tempo.
Eu passei pelo perímetro no meu caminho de volta, indo em direção à casa.
Mesmo sabendo que era uma estupidez fazer isso, eu não consegui me deter. Eu devia ser
uma espécie de masoquista.
Não há nada de errado com você, Jake. Essa não é uma situação muito comum.
Por favor, Seth, cala a boca.
Calando.
Dessa vez eu não hesitei na porta; eu simplesmente passei por ela como se fosse dono do
lugar. Eu achei que isso ia tirar Rosalie do sério, mas meus esforços foram em vão. Nem Rosalie
nem Bella estavam em lugar algum. Eu olhei loucamente ao redor, esperando não as ter visto em
algum lugar, meu coração se apertando às costelas de uma forma estranha, desconfortável.
- Ela está bem - Edward sussurrou. - Ou, na mesma, eu diria.
Edward estava no sofá com as mãos no rosto; ele não olhou pra cima para falar. Esme
estava ao lado dele, com o braço segurando os ombros dele com força.
- Olá, Jacob - ela disse. - Eu estou muito feliz por você ter voltado.
- Eu também - Alice disse com um suspiro profundo. Ela veio descendo as escadas, fazendo
uma careta. Como se eu estivesse atrasado para um compromisso.
- Uh, hey - eu disse. Era estranho tentar ser educado. - Onde está Bella?
- Banheiro - Alice disse. - Ela está na dieta do líquido, sabe. Além do mais, pelo que eu
soube, esse negócio de engravidar faz isso com você.
- Ah.
Eu fiquei lá todo estranho, me balançando nos calcanhares pra frente e pra trás.
- Oh, maravilha - Rosalie rosnou. Eu virei a cabeça e a vi vindo de um corredor meio
escondido pelas escadas. Ela estava com Bella gentilmente curvada em seus braços, uma careta
endurecida no rosto pra mim. - Eu sabia que alguma coisa estava cheirando mal.
E, exatamente como antes, o rosto de Bella se iluminou como uma criança na manhã de
Natal. Como se eu tivesse trazido pra ela o melhor presente de todos.
Isso era muito injusto.
- Jacob - ela respirou. - Você veio.
- Oi, Bells.
Esme e Edward ficaram de pé. Eu observei como Rosalie colocava Bella cuidadosamente no
sofá. Eu observei como, apesar disso, Bella ficou pálida e prendeu a respiração – como se ela
estivesse disposta a não fazer barulho não importa o quanto doesse.
Edward passou as mãos na testa dela e então pelo pescoço. Ele fez parecer que estava
apenas colocando o cabelo dela pra trás, mas pra mim pareceu um exame médico.
- Você está com frio? - Ele murmurou.
- Eu estou bem.
- Bella, você sabe o que Carlisle disse - Rosalie disse. - Não esconda nada. Isso não nos
ajuda a cuidar de vocês dois.
- Está bem, eu estou com um pouco de frio. Edward, você pode me passar o cobertor?
Eu revirei os olhos. - Não é pra isso que eu to aqui?
- Você acabou de entrar - Bella disse. - Depois de ter corrido o dia inteiro, eu aposto. Ponha
os pés pra cima um minuto. Eu provavelmente vou ficar aquecida daqui a pouco.
Eu a ignorei, indo me sentar no chão perto do sofá enquanto ela ainda estava me dizendo o
que fazer. Nesse ponto, no entanto, eu não tinha certeza de como... Ela parecia meio frágil, e eu
estava com medo de mexer nela, até mesmo de colocar o braço ao seu redor. Então eu só me
inclinei cuidadosamente ao lado dela, deixando meu braço descansar no braço dela, e segurei sua
mão. Então eu coloquei minha outra mão em seu rosto. Era difícil dizer se ela estava sentindo
mais frio do que o normal.
- Obrigada, Jake - ela disse, e eu a senti estremecer uma vez.
- Ta - eu disse.
Edward sentou no braço do sofá aos pés de Bella, seus olhos sempre no rosto dela.
Era pedir demais, com toda a super audição naquela sala, que ninguém reparasse no meu
estômago roncando.
- Rosalie, porque você não pega algo na cozinha para Jacob? - Alice disse. Ela estava
invisível agora, silenciosamente sentada atrás do encosto do sofá.
Rosalie encarou sem acreditar para o lugar de onde a voz de Alice estava vindo.
- Obrigado, mesmo assim, Alice, mas eu não acho que quero comer alguma coisa cuspida
pela loira. Eu aposto que o meu sistema não ia aceitar muito bem o veneno.
- Rosalie nunca envergonharia Esme com tal demonstração de falta de hospitalidade.
- É claro que não. - A loira disse numa voz agridoce da qual eu desconfiei imediatamente.
Ela levantou e saiu rapidamente da sala.
Edward suspirou.
- Você me diria se ela envenenasse a comida, né? - Eu perguntei.
- Sim - Edward prometeu.
E por algum motivo eu acreditei.
Havia muito barulho na cozinha, e – estranhamente – o som do metal protestando enquanto
sofria abuso. Edward suspirou de novo, mas também sorriu só um pouco. então Rosalie voltou
antes que eu pudesse pensar muito sobre isso. Com um sorriso satisfeito, ela colocou uma tigela
prateada no chão perto de mim.
- Aproveite, retardado.
Provavelmente aquilo, um dia, tinha sido só uma tigela grande, mas ela praticamente fez as
bordas se curvarem até que ela tivesse quase o formato de uma tigela de cachorro. Eu fiquei
impressionado pelo rápido artesanato dela. E a atenção aos detalhes. Ela tinha escrito a palavra
Totó na lateral. Excelente caligrafia.
Só porque a comida parecia muito boa – filé, nada menos, e uma batata assada com tudo o
que tinha direito – eu disse a ela - Obrigada, loira.
Ela rosnou.
- Hey, você sabe como se chama uma loira com cérebro? - Eu perguntei, e tentei continuar
num fôlego só. - um golden retriever.
- Eu também já ouvi essa - ela disse, sem sorrir.
- Eu vou continuar tentando - eu prometi, e então comecei a comer.
Ela fez uma cara de nojo e revirou os olhos. Então ela sentou em um dos braços do sofá e
começou a passar os canais da TV tão rápido que não era possível que ela realmente estivesse
procurando por algo pra assistir.
A comida estava boa, mesmo com o fedor de vampiro no ar. Eu realmente estava me
acostumando a isso. Huh. Não era uma coisa que estava querendo fazer, exatamente...
Quando eu terminei – apesar de que eu estava considerando a idéia de lamber a tigela, só
pra dar um motivo pra Rosalie reclamar – eu senti os dedos de Bella passando suavemente pelo
meu cabelo. Ela o assentou na minha nuca.
- Hora de cortar o cabelo, huh?
- Você está ficando meio descabelado - ela disse. - Talvez –
- Me deixe adivinhar, alguém aqui costumava cortar cabelo em um salão em Paris?
Ela gargalhou. - Provavelmente.
- Não, obrigado - eu disse antes que ela realmente pudesse oferecer. - Eu estou bem por
algumas semanas ainda.
Isso me fez pensar por quantas semanas ela ficaria bem. Eu tentei pensar numa forma
educada de perguntar.
- Então... um... qual é a, er, data? Você sabe, a data que o monstrinho vai nascer.
Ela deu um tapa atrás da minha cabeça com a mesma força que uma pena tinha, mas não
respondeu.
- Eu estou falando sério - eu disse a ela. - Eu quero saber por quanto tempo eu terei que
ficar aqui. - Quanto tempo você vai ficar aqui, eu adicionei em minha cabeça. Aí eu me virei pra
olhar pra ela. Seus olhos estavam pensativos; a linha de estresse estava entre as sobrancelhas
dela de novo.
- Eu não sei - ela murmurou. - Não exatamente. Obviamente, aqui nós não estamos
acompanhando o modelo dos nove meses e nós não conseguimos fazer uma ultrassom, então
Carlisle está adivinhando pelo tamanho que eu estou. Pessoas normais ficam com cerca de
quarenta centímetros aqui – ela passou o dedo no meio do seu estômago inchado – quando o
bebê já cresceu completamente. Apenas um centímetro por semana. Eu estava com trinta
centímetros essa manhã, e estou ganhando dois centímetros a cada dia, às vezes mais...
Duas semanas para cada dia, os dias estavam voando. E vida dela estava sendo adiantada.
Quantos dias isso dava a ela, se ela estava contando até quarenta? Quatro?
Eu levei um minuto pra lembrar como engolir.
- Você está bem? - Ela perguntou.
Eu balancei a cabeça, sem ter certeza como a minha voz sairia.
O rosto de Edward tinha virado pro lado oposto enquanto ele ouvia meus pensamentos, mas
eu conseguia ver o reflexo dele na parede de vidro. Ele era um homem pegando fogo novamente.
Era engraçado como ter um prazo fazia com que fosse mais difícil pensar em ir embora, ou
deixa-la ir embora. Eu estava feliz por Seth ter tocado no assunto, então eu sabia que eles iam
ficar aqui. Seria intolerável, se eles realmente fossem embora, tirar um ou dois dias entre aqueles
quatro. Meus quatro dias.
Também era engraçado como, mesmo sabendo que estava quase no fim, o laço que me
prendia a ela só ficava mais difícil de se quebrar. Isso quase estava relacionado à barriga em
crescimento dela – como se ficando maior, ela estivesse ganhando força gravitacional.
Por um minuto eu tentei olha-la à distância, tentar me livrar do imã. Eu sabia que não era só
minha imaginação que tornava minha necessidade dela maior ainda. Porque isso estava
acontecendo? Porque ela estava morrendo? Ou porque sabendo que se ela não estivesse
morrendo, mesmo assim – na melhor hipótese – ela estava se transformando em outra coisa que
eu não conheceria ou entenderia?
Ela passou o dedo na maçã do meu rosto, e minha pele estava molhada onde ela tocou.
- Vai ficar tudo bem - ela gaguejou um pouco. Não importava que as palavras não
significassem nada. Ela disse isso da mesma forma que as pessoas cantavam aquelas músicas pra
ninar criança. Diga boa noite, bebê.
- Certo - eu murmurei.
Ela se curvou no meu braço, descansando a cabeça no meu ombro. - Eu não achei que você
viria. Seth disse que você viria, e Edward também, mas eu não acreditei neles.
- Porque não? - Eu perguntei bruscamente.
- Você não fica feliz aqui. Mas veio do mesmo jeito.
- Você me queria aqui.
- Eu sei, mas você não precisava vir, porque não é justo que eu te queira aqui. Eu teria
entendido.
Eu fiquei quieto por um minuto. Edward recompôs o rosto. Ele estava olhando para a Tv
enquanto Rosalie continuava passando canais. Ela já estava pra lá dos seiscentos. Eu me
perguntei quanto tempo levaria pra voltar pro início.
- Obrigada por ter vindo - Bella sussurrou.
- Posso te perguntar uma coisa? - Eu perguntei.
- É claro.
Edward não parecia estar prestando nem um pouco de atenção em nós, mas ele sabia o que
eu estava prestes a perguntar, então ele não me enganava.
- Porque você me quer aqui? Seth podia te manter aquecida, e é provável que ele tenha
mais facilidade em ficar por perto, feliz como um boboca. Mas quando eu passo pela porta, você
sorri como se eu fosse a sua pessoa favorita no mundo.
- Você é uma delas.
- Isso é um saco, sabe.
- É - ela suspirou. - Desculpa.
- Mas porque? Você não respondeu isso.
Edward tinha desviado o olhar de novo, como se estivesse olhando pra fora pelas janelas.
No reflexo o rosto dele estava vazio.
- Eu me sinto... completa quando você está aqui, Jacob. Como se toda a minha família
estivesse junta. Quer dizer, eu acho que é como se fosse – eu nunca tive uma família grande
antes. É bom. - Ela sorriu por meio segundo. - Mas não está completa a não ser que você esteja
aqui.
- Eu nunca fui parte da sua família, Bella.
Eu podia ter sido. Eu teria sido bom nisso. Mas esse era um futuro distante que morreu
antes de ter a chance de viver.
- Você sempre foi parte da minha família - ela discordou.
Meus dentes fizeram barulho quando se cerraram. - Essa resposta é uma merda.
- Qual é a boa resposta?
- Que tal ‘Jacob, eu me divirto com a sua dor’.
Eu a senti enrijecer.
- Você preferiria isso? - ela sussurrou.
- Pelo menos é mais fácil. Eu podia enfiar isso na minha cabeça. Eu podia lidar com isso.
Aí eu olhei para baixo, para o rosto dela, tão próximo ao meu. Os olhos dela estavam
fechados e ela estava fazendo uma careta. - Nós saímos com caminho, Jake. Perdemos o
equilíbrio. Você nasceu pra fazer parte da minha vida – eu posso sentir isso, e você também pode.
- Ela parou por um segundo sem abrir os olhos – como se estivesse esperando que eu negasse.
Quando eu não disse nada, ela continuou.
- Mas não assim. Nós fizemos algo errado. Não. Eu fiz. Eu fiz algo errado, e saímos do
caminho...
A voz dela parou , e a careta em seu rosto relaxou até que era apenas uma pequena torção
nos lábios dela. Eu esperei que ela derramasse mais um pouco de suco de limão no corte, mas aí
um ronco leve veio do fundo da garganta dela.
- Ela está exausta - Edward murmurou. - Foi um longo dia. Um dia duro. Eu acho que ela
teria ido dormir mais cedo, mas ela estava esperando por você.
Eu não olhei pra ele.
- Seth disse que ela quebrou outra costela.
- Sim. Está dificultando a respiração dela.
- Ótimo.
- Me avise quando ela ficar com calor de novo.
- Tá.
Ela ainda tinha arrepios no braço que não estava tocando o meu. Eu mal tinha levantado a
cabeça pra procurar um cobertor quando Edward puxou um que estava jogado no braço do sofá e
o sacudiu por cima dela.
Ocasionalmente, a coisa de ler mentes poupava tempo. Por exemplo, talvez eu não
precisasse fazer uma grande cena de acusação sobre o que estava acontecendo com Charlie.
Aquela bagunça. Edward ia simplesmente ouvir exatamente o quão furioso –
- Sim - ele concordou. - Não é uma boa idéia.
- Então porque? - Porque Bella estava dizendo ao pai que estava melhorando quando isso só
o faria mais infeliz?
- Ela não agüenta a ansiedade dele.
- Então é melhor –
- Não. Não é melhor. Mas eu não vou forçá-la a fazer nada que a deixe infeliz agora. O que
quer que aconteça, isso faz ela se sentir melhor. Eu vou lidar com o resto depois.
Isso não parecia certo. Bella não amenizaria a dor de Charlie para que mais tarde alguma
outra pessoa lidasse com isso. Mesmo morrendo. Ela não era assim. Se eu conhecia Bella, ela
tinha algum outro plano.
- Ela tem certeza absoluta que vai viver - Edward disse.
- Mas não como humana - eu protestei.
- Não, não como humana. Mas de qualquer forma, ela espera ver Charlie novamente.
Oh, isso estava ficando cada vez melhor.
- Ver. Charlie. - Eu finalmente olhei pra ele, meus olhos se arregalando. - Depois. Ver Charlie
quando ela estiver brilhando de tão branca e com olhos vermelhos brilhantes. Eu não sou um
sugador de sangue, então talvez eu esteja perdendo alguma coisa, mas Charlie parece ser uma
escolha estranha para ser a primeira refeição dela.
Edward suspirou. - Ela sabe que não vai agüentar ficar perto dele por pelo menos um ano.
Ela acha que pode controlar a situação. Dizer a Charlie que precisa ir para algum hospital especial
do outro lado do mundo. Manter contato por telefone...
- Isso é loucura.
- Sim.
- Charlie não é burro. Mesmo se ela não o matar, ele vai reparar na diferença.
- Ela está meio que fazendo uma aposta.
Eu continuei a encarar, esperando que ele explicasse.
- Ela não estaria envelhecendo, é claro, então isso estabeleceria um limite de tempo, mesmo
que Charlie aceitasse qualquer que fosse a explicação que ela inventasse para explicar as
mudanças. - Ele deu um sorriso fraco. - Você lembra de como tentou contá-la sobre a sua
transformação? Como você a fez adivinhar?
Minha mão livre se curvou no punho. - Ela te contou sobre isso?
- Sim. Ela estava explicando a... idéia dela. Veja, ela não pode contar a Charlie a verdade –
seria perigoso demais pra ele. Mas ele é um homem esperto, prático. Ela acha que ele vai
encontrar uma explicação. Ela presume que ele vai entender tudo errado - ele bufou. - Afinal, nós
dificilmente aderimos aos padrões de vampiros. Ele vai tirar conclusões erradas sobre nós, como
ela fez no início, e nós vamos agir de acordo com isso. Ela acha que será capaz de vê-lo... de vez
em quando.
- Loucura - eu repeti.
- Sim - ele concordou de novo.
Eu fiquei fraco de vê-lo deixar ela fazer o que queria, só pra faze-la feliz agora. Isso não ia
acabar bem.
Isso me fez pensar que ele provavelmente não estava esperando que ela sobrevivesse para
botar esse plano louco em andamento. Ele estava acalmando-a, pra que ela pudesse ser feliz por
mais um tempo.
Tipo, por mais quatro dias.
- Eu vou lidar com o que quer que aconteça - ele sussurrou, e virou o rosto pra baixo para
que eu não conseguisse nem ver seu reflexo. - Eu não vou causar dor a ela agora.
- Quatro dias? - Eu perguntei.
Ele não olhou pra cima. - Aproximadamente.
- E depois o quê?
- O que você quer dizer, exatamente?
Eu pensei no que Bella tinha dito. Sobre a coisa estar presa e bem amarrada em algo forte,
algo como pele de vampiro. Como aquilo funcionava? Como se saía?
- Pela pouca pesquisa que pudemos fazer, parece que a criatura usa os dentes para escapar
da placenta - ele sussurrou.
Eu tive que parar pra engolir bile.
- Pesquisa? - eu perguntei fracamente.
- É por isso que você não tem visto Emmett e Jasper por aqui. É isso que Carlisle está
fazendo agora. Tentando decifrar histórias e mitos antigos, o máximo que podemos com o que
temos por aqui, procurando alguma coisa que nos ajude a prever o comportamento da criatura.
Histórias? Se eram mitos, então...
- Então essa coisa não é a primeira da nossa espécie? - Edward perguntou, antecipando
minha pergunta. - Talvez. É tudo muito vago. Os mitos poderiam facilmente ser frutos do medo e
da imaginação. Mas... – ele hesitou – os mitos de vocês são verdadeiros, não são? Talvez esses
também sejam. Eles parecem ser bem localizados, ter ligação...
- Como você encontrou...?
- Havia uma mulher que encontramos na América do Sul. Ela cresceu com as tradições de
seu povo. Ela ouviu avisos sobre tais criaturas, histórias antigas que foram passadas.
- Quais eram os avisos? - Eu sussurrei.
- A criatura deve ser morta imediatamente. Antes que ganhe força demais.
Exatamente como Sam tinha pensado. Ele estava certo?
- É claro, as lendas dizem o mesmo sobre nós. Que devemos ser destruídos. Que somos
assassinos desalmados.
Dois a dois.
Edward deu uma gargalhada dura.
- O que as histórias deles falavam sobre as... mães?
Agonia tomou o rosto dele e, enquanto eu me inclinava pra longe da dor dele, eu soube que
ele não ia me dar uma resposta. Eu duvidava que ele pudesse falar.
Foi Rosalie – que esteve tão quieta e silenciosa desde que Bella caiu no sono que eu quase a
esqueci – quem respondeu.
Ela fez um som de deboche no fundo da garganta. - É claro que não haviam sobreviventes -
ela disse. Nada de sobreviventes, insensível e despreocupada. - Dar a luz num campo molhado e
infestado de doenças com um médico cuspindo obscenidades na sua cara para afastar os espíritos
do mau nunca foi a melhor forma. Mesmo os partos normais dão errado às vezes. Nenhum deles
tinha o que esse bebê tem – pessoas que têm uma idéia do que um bebê precisa, que tentam
suprir essas necessidades. Um médico com um conhecimento totalmente único da natureza dos
vampiros. Um plano pronto para fazer um bebê nascer da forma mais segura possível. Veneno
para reparar qualquer coisa que dê errado. O bebê vai ficar bem. E aquelas outras mães
provavelmente teriam sobrevivido – se tivessem existido pra começo de história. Coisa da qual eu
não estou convencida. - Ela inalou o ar, desdenhosa.
O bebê, o bebê. Como se isso fosse tudo o que importava. A vida de Bella era um mero
detalhe pra ela – fácil de deixar de lado.
O rosto de Edward ficou branco feito neve. As mãos dele se curvaram parecendo garras.
Totalmente egoísta e indiferente, Rosalie virou na cadeira até ficar de costas pra ele. ele se
inclinou para a frente, ficando em posição de ataque.
Permita-me, eu sugeri.
Ele parou, erguendo uma sobrancelha.
Silenciosamente, eu ergui minha tigela de cachorro do chão. Então, com um movimento
rápido e poderoso do meu pulso, eu a atirei atrás da cabeça da loira com tanta força que – com
um bang ensurdecedor – ela bateu com tudo antes de ricochetear através da sala e ir bater numa
peça fixada no topo do corrimão da escada.
Bella se mexeu mas não acordou.
- Loira burra - eu murmurei.
Rosalie virou a cabeça lentamente, e seus olhos estavam faiscando.
- Você. Derrubou. Comida. No. Meu. Cabelo.
Isso eu fiz.
Eu explodi. Eu afastei Bella para não balançá-la, e lágrimas escorreram do meu rosto de
tanto que eu ria. De trás do sofá, eu ouvi a risada cristalina de Alice se juntar à minha.
Eu me perguntei porque Rosalie não pulou em mim. Eu meio que esperei isso. Mas aí eu me
dei conta de que a minha risada tinha acordado Bella, apesar dela ter permanecido dormindo
quando o maior barulho aconteceu.
- O que é tão engraçado? - Ela murmurou.
- Eu derrubei comida no cabelo dela - eu disse a ela, caindo na gargalhada de novo.
- Eu não vou esquecer isso, cachorro - Rosalie assobiou.
- Não é tão difícil apagar a memória de uma loira - eu comentei. - É só soprar no ouvido
dela.
- Arrume umas piadas novas - ela rebateu.
- Vamos, Jake. Deixe Rose em – Bella parou no meio da frase e sugou o ar profundamente.
No mesmo segundo, Edward estava inclinado sobre mim, tirando o cobertor do caminho. Ela
parecia estar em convulsão, suas costas se arqueando no sofá.
- Ele só está - ela ofegou. - Se esticando.
Seus lábios estavam brancos, e ela travou os dentes como se estivesse tentando conter um
grito.
Edward colocou as mãos nos lados no rosto dela.
- Carlisle? - Ele chamou numa voz tensa, baixa.
- Bem aqui - o doutor disse. Eu não tinha o ouvido entrar.
- Okay - Bella disse, ainda respirando dura e superficialmente. - Eu acho que acabou. A
pobre criança não tem espaço suficiente, isso é tudo. Ele está ficando grande demais.
Isso era muito difícil de agüentar, o tom de adoração que ela usava para descrever a coisa
que a estava despedaçando. Especialmente depois da falta de tato de Rosalie. Isso me fez querer
poder atirar alguma coisa em Bella também.
Ela não percebeu meu humor. - Sabe, ele me faz lembrar de você, Jake - ela disse - num
tom carinhoso – ainda resfolegando.
- Não me compare com essa coisa - eu cuspi por entre os dentes.
- Eu estava falando do seu crescimento - ela disse, parecendo que eu havia magoado seus
sentimentos. Bom. - Você simplesmente deu um salto. Dava pra te ver você ficando mais alto a
cada minuto. Ele é assim também. Crescendo tão rápido.
Eu mordi a língua pra não dizer o que estava querendo dizer – com força suficiente pra
sentir o sangue na minha boca. É claro, ia sarar antes que eu pudesse engolir. Era disso que Bella
precisava. Ser forte como eu, ser capaz de se curar...
Ela respirou com mais facilidade e relaxou de novo no sofá, seu corpo ficando amolecido.
- Hmm - Carlisle murmurou. Eu olhei pra ele, e os olhos dele estavam em mim.
- O quê? - Eu quis saber.
A cabeça de Edward pendeu para um lado enquanto ele refletia o que quer que estivesse na
cabeça de Carlisle.
- Sabe aquilo que eu estava pensando sobre uma transformação genética no feto, Jacob.
Sobre seus cromossomos.
- O que tem isso?
- Bem, levando as similaridades em consideração –
- Similaridades? - eu rosnei, não gostando do plural.
- O crescimento acelerado, o fato que Alice também não consegue ver nenhum dos dois.
Eu senti meu rosto ficar branco. Eu tinha esquecido dessa outra.
- Bem, eu me pergunto se isso significa que nós temos uma resposta. Se as similaridades
estão nos genes.
- Vinte e quatro pares - Edward murmurou baixinho.
- Você não sabe disso.
- Não. Mas é interessante especular - Carlisle disse numa voz tranqüilizadora.
- É. Simplesmente fascinante.
O leve ronco de Bella começou de novo, acentuando bem o meu sarcasmo.
Aí eles partiram pro papo, rapidamente levando a conversa sobre genética a um ponto em
que as únicas palavras que eu entendia eram os o’s e e’s. E meu próprio nome, é claro. Alice se
juntou, comentando de vez em quando com sua voz bem humorada com a de um pássaro.
Apesar de eles estarem falando sobre mim, eu não tentei entender a que conclusões eles
estavam chegando. Eu tinha outras coisas em minha mente, alguns poucos fatos que eu estava
tentando reconciliar.
Fato um, Bella tinha dito que a coisa era protegida por uma alguma coisa tão forte como
pele de vampiro, uma coisa que era muito impenetrável para as ultra-sons, duras demais para
agulhas. Fato dois, Rosalie disse que eles tinham um plano para dar a luz à criatura em segurança.
Fato três, Edward tinha dito que – em mitos – monstros como esse mastigavam para sair da
própria mãe.
Eu estremeci.
E isso fazia sentido de uma forma doentia, porque, fato quatro, não muitas coisas podiam
cortar algo tão forte quanto a pele dos vampiros. Os dentes da meia criatura – de acordo com o
mito – eram fortes o suficiente.
Meus dentes eram fortes o suficiente.
Era meio difícil ignorar o óbvio, mas com certeza eu gostaria de poder.
Porque eu tinha uma bela idéia de como exatamente Rosalie planejava tirar a coisa lá de
dentro em segurança.

(heloisa santos)

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