14 – "VOCÊ SABE QUE AS COISAS VÃO MAL QUANDO VOCÊ SE SENTE CULPADO
POR TER SIDO RUDE COM UM VAMPIRO"
Quando eu voltei para a casa, não havia ninguém do lado de fora esperando notícias
minhas. Ainda em alerta?
Está tudo legal, eu pensei diretamente.
Meus olhos captaram imediatamente uma pequena mudança na cena agora familiar. Havia
uma pilha de tecido em cores claras no último degrau da varanda. Eu me aproximei para
investigar. Segurando a respiração, já que o cheiro de vampiros estava grudado na roupa de
forma inacreditável, eu cutuquei a pilha com o nariz.
Alguém havia emprestado roupas. Huh. Edward devia ter captado o meu momento de
irritação enquanto eu estava na porta. Bom, isso foi legal... e estranho.
Eu peguei as roupas com os dentes cuidadosamente – ugh – e as carreguei até as árvores.
Só pro caso disso ser uma piada daquela loira psicopata e eu tinha um monte de coisas pra
garotas aqui. Mas ela teria adorado dar uma olhada na minha cara de humano enquanto eu fiquei
ali, nu, segurando uma roupa de verão.
Escondido pelas árvores, eu joguei as roupas no chão e me transformei em humano. Eu
balancei as roupas, batendo-as contra uma árvore para tirar um pouco do cheiro delas. Elas
definitivamente eram roupas de homem – calças meio marrons e uma blusa branca de botões.
Nenhuma delas era longa o suficiente, mas parecia que elas iam caber em mim. Deviam ser de
Emmett. Eu rolei os punhos das mangas da camisa, mas não houve muito o que fazer e relação às
calças. Oh, bem.
Eu precisava admitir, eu me sentia melhor usando roupas, mesmo sendo fedorentas e eu
não cabendo muito bem nelas. Era difícil não ser capaz de simplesmente correr até em casa e
pegar outro par de calças de moletom quando eu precisava. A coisa de ‘sem teto’ de novo – não
ter nenhum lugar para o qual voltar. Nada de coisas suas também, o que não estava me
incomodando tanto agora, mas provavelmente ia ficar chato em breve.
Exausto, eu caminhei lentamente até os degraus da varanda dos Cullen nas minhas roupas
chiques de segunda mão mas eu hesitei quando cheguei na porta. Eu batia? Estúpido, já que eles
sabiam que eu estava aqui. Eu me perguntei porque ninguém se dava conta disso – ou me dizia
entre ou se manda. Que seja. Eu ergui os ombros e entrei sem convite.
Mais mudanças. A sala havia voltado ao normal – quase – no últimos vinte minutos. A
grande televisão de tela plana estava ligada, num volume baixo, mostrando alguma coisa
afeminada que ninguém parecia estar assistindo. Carlisle e Esme estavam de pé perto das janelas
do fundo, que estavam abertas para o rio novamente. Alice, Jasper, e Emmett estavam fora de
vista, mas eu os ouvi murmurando no andar de cima. Bella estava no sofá como ontem, com
apenas um tubo ainda plugado nela, e uma intra-venosa pendurada atrás do encosto do sofá. Ela
estava enrolada como um burrito em duas colchas grossas, então pelo menos eles tinham me
ouvido antes. Rosalie estava sentada de pernas cruzadas perto da cabeça dela. Edward estava
sentado na outra ponta do sofá com os pés enrolados de Bella em seu colo. Ele olhou pra cima
quando eu entrei e sorriu pra mim – só uma pequena curva na boca dele – como se alguma coisa
agradasse ele. Bella não me ouviu. Ela apenas olhou pra cima quando ele olhou, e então sorriu
também. Com verdadeira energia, todo o rosto dela se iluminou. Eu não podia lembrar da última
vez quando ela pareceu tão feliz em me ver.
Qual era o problema dela? Pra começo de história, ela era casada! e feliz no casamento
também – não havia dúvidas de que ela estava tão apaixonada por aquele vampiro que
ultrapassava as barreiras da sanidade. E com uma enorme barriga de grávida, ainda por cima.
Então porque ela tinha que estar tão feliz em me ver? Como se eu tivesse melhorado todo o
dia dela só em ter passado pela porta.
Se ela simplesmente não ligasse... Ou mais que isso – se realmente não me quisesse por
perto. Seria muito mais fácil me manter longe.
Edward parecia concordar com os meus pensamentos – ultimamente nós estávamos tanto
na mesma sintonia que era uma loucura. Ele estava fazendo uma careta agora, lendo o rosto dela
enquanto ela se derretia pra mim.
- Eles só querem conversar - eu murmurei com a minha voz se arrastando de exaustão. -
Nada de ataques no horizonte.
- Sim - Edward respondeu. - Eu ouvi a maior parte.
Isso me acordou um pouco. Nós estávamos a uns bons seis quilômetros de distância.
- Como?
- Eu estou te ouvindo com mais clareza – é uma questão de familiaridade e concentração.
Além do mais, seus pensamentos são um pouco mais fáceis de entender quando você está na
forma humana. Então eu ouvi boa parte do que aconteceu fora daqui.
- Oh. - Isso me incomodou um pouco, mas não foi por nenhum motivo especial, então eu
deixei pra lá. - Bom. Eu odeio ficar me repetindo.
- Eu te diria pra ir dormir um pouco - Bella disse - mas eu acho que você vai desmaiar no
chão em cerca de seis segundos, então não há nenhuma necessidade.
Eu estava impressionado de ver o quanto ela parecia melhor, quanto ela parecia mais forte.
Eu senti cheiro de sangue fresco e vi que o copo estava nas mãos dela de novo. Quanto sangue
mais seria necessário para mantê-la bem? Em algum ponto, eles começariam a matar os vizinhos?
Eu caminhei até a porta, contanto os segundos para ela enquanto andava. - Um Mississipi...
dois Mississipi...
- Onde está o incêndio, totó? - Rosalie murmurou.
- Você sabe como afogar uma loira, Rosalie? - Eu perguntei sem parar e sem me virar pra
ela. - Cole um espelho no fundo de uma piscina.
Eu ouvi Edward gargalhar enquanto eu fechava a porta. O humor dela parecia melhorar em
co-relação com a saúde de Bella.
- Eu já ouvi essa antes - Rosalie disse atrás de mim.
Eu degraus escadas abaixo, meu único objetivo era o de chegar até as árvores onde o ar
seria puro novamente. Eu planejava me livrar das roupas a uma distância conveniente da casa
para usá-las no futuro, ao invés de ter que prende-las na minha perna, para que eu também não
precisasse ficar cheirando elas. Eu mexi nos botões da camisa nova, eu pensei vagamente em
como os botões nunca estariam na moda para os vampiros.
Eu ouvi as vozes enquanto andava pelo gramado.
- Onde você vai? - Bella perguntou. - Tem uma coisa que eu esqueci de dizer a ele.
- Deixa Jacob dormir – isso pode esperar.
Sim, por favor, deixe o Jacob dormir.
- Só vai levar um momento.
Eu me virei lentamente. Edward já havia passado pela porta. A expressão dele era de quem
pedia desculpas enquanto ele se aproximava.
- Nossa, o que é agora?
- Me desculpe - ele disse, e então hesitou, como se ele não soubesse como dizer o que
estava pensando.
O que há na sua mente, leitor de mentes?
- Quando você estava falando com os delegados de Sam mais cedo - ele murmurou. - eu
estava tendo uma conversa com Carlisle, Esme e o resto deles. Eles estavam preocupados –
- Olha, não estamos baixando a guarda. Você não precisa acreditar em Sam como nós
acreditamos. Vamos manter os olhos abertos de qualquer maneira.
- Não, não, Jacob. Não sobre isso. Nós confiamos no seu julgamento. Apesar disso, Esme
está preocupada com as dificuldades que isso está fazendo seu bando passar. Ela me pediu pra
falar em particular sobre isso com você.
Isso me pegou de surpresa. - Dificuldades?
- A parte de estar sem teto, particularmente. Ela está muito aborrecida por você estar tão...
desprovido.
Eu bufei. A mãe pássaro dos vampiros – bizarro. - Somos durões. Diga que ela não se
preocupe.
- Ela ainda gostaria de fazer o que puder. Eu tenho a impressão de que Leah gostaria de não
comer em sua forma de loba?
- E? - Eu quis saber.
- Bem, nós temos comida normal de humanos aqui, Jacob. Pra manter as aparências, e é
claro, por Bella. Leah será bem vinda para o que ela quiser. Todos vocês serão.
- Eu vou dizer a eles.
- Leah nos odeia.
- Então?
- Então tente dizer de uma forma que faça ela considerar a idéia, se você não se importar.
- Eu farei o que puder.
- E há o problema das roupas.
Eu olhei para as que eu estava vestindo. - Oh sim. Obrigado. - Provavelmente não seria
educado mencionar o quanto elas fediam.
Ele sorriu, só um pouco. - Bem, seremos facilmente capazes de ajudar com qualquer
necessidade aqui. Alice raramente permite que a gente use a mesma coisa duas vezes. Temos
pilhas de roupas novinhas que estão abandonadas ao relento, e eu imagino que Leah tem
praticamente o tamanho de Esme...
- Não sei exatamente como ela se sente em relação às roupas de segunda mão de
sugadores de sangue. Ela não é tão pratica quanto eu.
- Eu confio que você vai apresentar a proposta da melhor maneira. Assim como a oferta de
qualquer outra coisa material que vocês precisem, ou transporte, ou qualquer outra coisa. Por
favor... não pense que não temos os mesmos benefícios de um lar.
Ele disse essa última frase suavemente – não tentando ficar calmo dessa vez, mas com
alguma emoção verdadeira.
Eu o encarei por um segundo, piscando sonolento. - Isso é, er, legal da sua parte. Diga a
Esme que apreciamos o, er, pensamento. Mas o perímetro passa pelo rio em alguns lugares, então
nós nos mantemos limpinhos, obrigado.
- Seria bom fazer a oferta, mesmo assim.
- Claro, claro.
- Obrigado.
Eu dei as costas pra ele, apenas para ficar congelado quando ouví o baixo gemido de dor
que vinha de dentro da casa. Quando eu virei de novo, ele já tinha desaparecido
O que foi agora?
Eu fui atrás dele, me arrastando feito um zumbí. E usando mais ou menos a mesma
quantidade de células também. Eu não parecia ter escolha. Alguma coisa estava errada. Eu ia ver
o que era. Não haveria nada que eu pudesse fazer. E eu ia me sentir pior
Parecia inevitável.
Eu me deixei entrar novamente. Bella estava ofegante, curvada sobre a inchação no centro
do seu corpo. Rosalie estava segurando-a enquanto Edward, Carlisle e Esme continuavam
estáticos. Uma pontada de movimento chamou minha atenção; Alice estava no topo da escada,
olhando para a sala com as mãos pressionando as têmporas. Era estranho – como se a entrada
dela tivesse sido barrada em algum lugar.
- Me dê um segundo, Carlisle - Bella ofegou.
- Bella - o médico disse ansiosamente - eu ouvi alguma coisa se partindo. Eu preciso dar
uma olhada.
- Eu tenho certeza – respira – que foi a costela. Ow. É. bem aqui. - Ela apontou para o lado
esquerdo, com cuidado para não tocar.
Agora estava quebrando os ossos dela.
- Eu preciso fazer um raio-X. Pode ter partículas. Não queremos que elas perfurem nada.
Bella respirou fundo. - Okay.
Rosalie levantou Bella cuidadosamente. Edward parecia prestes a discutir, mas Rosalie
mostrou os dentes pra ele e rosnou, - Eu já peguei ela.
Então agora Bella estava mais forte, mas a coisa também estava. Não se podia passar fome
sem fazer o outro passar fome também, e se curar acabava sendo assim também. Não tinha como
vencer.
A loira carregou Bella rapidamente escada acima com Carlisle e Edward em seus
calcanhares, nenhum deles reparando que eu estava parado feito um boboca na porta de entrada.
Então eles tinham um bando de sangue e um raio-X? Eu acho que o doutor trouxe trabalho
pra casa.
Eu estava cansado demais para segui-los, cansado demais para me mover. Eu me encostei
na parede e deslizei até o chão. A porta ainda estava aberta, e eu apontei meu nariz em sua
direção, agradecido pela brisa limpa passando por ela. Eu encostei minha cabeça no aparador e
fiquei escutando.
Eu podia ouvir a máquina de raio-X lá em cima. Ou pelo menos eu presumi que fosse isso. E
então os passos mais leves descendo as escadas. Eu não olhei pra cima para ver que vampiro era.
- Você quer um travesseiro? - Alice me perguntou.
- Não - eu murmurei. Pra que essa hospitalidade forçada? Isso estava me assustando.
- Isso não parece confortável - ela observou.
- Não é.
- Então porque você não sai daí?
- To cansado. Porque você não vai lá pra cima com os outros? - Eu rebati.
- Dor de cabeça - ela respondeu.
Eu rolei minha cabeça pro lado para olhar pra ela.
Alice era uma coisa pequenininha. Mais ou menos do tamanho dos meus braços.
Ela parecia ainda menor agora, meio curvada sobre si mesma. Seu pequeno rosto estava
contraído.
- Vampiros têm dor de cabeça?
- Não os vampiros normais.
Eu bufei. Vampiros normais.
- Então porque você nunca mais está com a Bella? - Eu perguntei, transformando a pergunta
em acusação. Eu não tinha pensado nisso antes, porque a minha cabeça esteve cheia de outras
besteiras, mas era estranho que Alice nunca estava perto de Bella, não desde que eu estava aqui.
Talvez se Alice estivesse ao lado dela, Rosalie não estivesse. - Eu pensei que vocês duas fossem
assim. - Eu juntei meus dois dedos e os torci.
- Como eu disse – ela se curvou nos azulejos a alguns metros de mim, passando os braços
magrinhos pelos joelhos magrinhos – dor de cabeça.
- Bella está te dando dor de cabeça?
- Sim.
Eu fiz uma careta. Eu certamente estava cansado demais pra charadas. Eu deixei minha
cabeça rolar de volta para o ar fresco e fechei os olhos.
- Não Bella, na verdade - ela emendou. - O... feto.
Ah, mais alguém se sentia como eu. Era bem fácil reconhecer. Ela dizia a palavra com asco,
do jeito que Edward dizia.
- Eu não entendo - ela me disse, apesar de que ela devia estar pensando consigo mesma.
Pelo que ela sabia, eu já estava dormindo. - Eu não dou nada por ele. Assim como você.
Eu enrijeci, e então apertei os dentes. Eu não gostava de ser comparado à criatura.
- Bella está no caminho. Ela está ao redor da coisa, então ela está... confusa. Como uma
televisão com recepção ruim – é como tentar concentrar os olhos naquelas pessoas meio tortas se
mexendo na tela. Ver ela está matando a minha cabeça. E de qualquer forma, eu não vejo muito
futuro. O... feto é uma parte muito grande do futuro dela. Quando ela decidiu no início... quando
ela soube que o queria, ela desapareceu das minhas visões. Isso me assustou demais.
Ela ficou quieta por um segundo, e depois completou, - Eu tenho que admitir, é um alívio ter
você por perto – a despeito do cheiro de cachorro molhado. Tudo vai embora. É como ter os olhos
fechados. Isso alivia a dor de cabeça.
- Eu estou feliz em poder servi-la, madame. - Eu murmurei.
- Eu me pergunto o que ele tem em comum com você... porque nesse sentido vocês dois
são iguais.
Um calor repentino se concentrou no centro dos meus ossos. Eu prendi meus punhos para
controlar os tremores.
- Eu não tenho nada em comum com aquele sugador de vidas - eu disse através dos dentes.
- Bem, tem alguma coisa aí.
Eu não respondi. O calor já estava desaparecendo. Eu estava cansado demais pra ficar
furioso.
- Você não se importa se eu ficar sentada aqui do seu lado, se importa? - Ela perguntou.
- Acho que não. Fede do mesmo jeito.
- Obrigada - ela disse. - Eu acho que é o melhor pra isso, eu acho, já que eu não posso
tomar aspirina.
- Dá pra ficar quieta? To dormindo aqui.
Ela não respondeu, ficando em silêncio imediatamente. Eu caí no sono em segundos.
Eu estava sonhando que estava com muita sede. E havia um grande copo de água na minha
frente – todo frio, dava pra notar por causa da condensação saindo pelos lados. Eu peguei o copo
e dei um gole enorme, só pra descobrir muito rapidamente que não era água – era água sanitária.
Eu tossi pra fora, cuspindo em tudo que é lugar, e saiu um monte pelo meu nariz. Queimou. Meu
nariz estava pegando fogo.
A dor no nariz me acordou o suficiente pra me fazer lembrar do lugar onde eu tinha
dormido. O cheiro era muito penetrante, considerando que meu nariz não estava de fato dentro da
casa. Ugh. E era barulhento. Alguém estava rindo alto demais. Uma risada familiar, mas uma que
não combinava com o cheiro. Não combinava.
Eu gemi e abri os olhos. Os céus estavam num tom cinzento – era dia, mas não havia nenhuma
dica da hora. Talvez estivesse perto do pôr do sol – estava bem escuro.
- Estava na hora - Loirinha murmurou, não muito longe. - O barulho de serra elétrica estava
ficando meio cansativo.
Eu rolei e me sentei. No processo eu descobri de onde o cheiro estava vindo. Alguém tinha
enfiado um grande travesseiro de penas embaixo do meu rosto. Provavelmente tentando ser
gentil, eu acho. A não ser que tenha sido Rosalie.
Quando o meu rosto estava longe das penas fedorentas, eu senti outros cheiros. Como
bacon e canela, todos misturados com o cheiro de vampiros.
Eu pisquei, observando a sala.
As coisas não haviam mudado muito, exceto que agora Bella estava sentada no meio do
sofá, e a intra-venosa tinha desaparecido. Loirinha estava sentada aos pés dela, a cabeça dela
descansando nos joelhos de Bella. Ainda me dava arrepios ver como eles a tocavam casualmente,
apesar de eu achar que isso era uma burrice, considerando todas as coisas. Edward estava ao lado
dela, segurando sua mão. Alice também estava no chão, como Rosalie. Agora o rosto dela não
estava contraído. E era fácil ver porque – ela achou outra coisa pra aliviar a dor de cabeça.
- Hey, Jake está acordando! - Seth disse.
Ele estava sentado do outro lado de Bella, seu braço jogado descuidadamente sobre o
ombro dela, um prato transbordando de comida no colo.
Que diabos?
- Ele veio te encontrar - Edward disse enquanto eu ficava de pé. - E Esme o convenceu a
ficar para o café da manhã.
Seth observou minha expressão, e se apressou em explicar.
- É, Jake – eu só estava checando se você estava bem, porque você não se transformou
mais. Leah ficou preocupada. Eu disse a ela que você provavelmente tinha caído no sono como
humano, mas você sabe como ela é. De qualquer forma, eles tinham essa comida e, ora – ele se
virou pra Edward – cara, você sabe cozinhar.
- Obrigado - Edward murmurou.
Eu inalei lentamente, tentando soltar a pressão nos meus dentes. Eu não conseguia tirar os
olhos do braço de Seth.
- Bella ficou com frio - Edward disse baixo.
Certo. De qualquer forma, não era da minha conta. Ela não pertencia a mim.
Seth ouviu o comentário de Edward, olhou pro meu rosto, e de repente ele precisou das duas
mãos pra comer. Ele tirou o braço de Bella e começou a comer. Eu caminhei pra ficar a alguns
metros do sofá, ainda tentando me concentrar.
- Leah está fazendo a patrulha? - Eu perguntei a Seth. Minha voz ainda estava grossa do
sono.
- Sim - ele disse enquanto mastigava. Seth estava usando roupas novas também. Elas
cabiam melhor nele do que em mim. - Ela está cuidando de tudo. Sem preocupação. Ela vai uivar
se houver alguma coisa. Nós trocamos mais ou menos meia noite. Eu corri doze horas. - Ele
estava orgulhoso disso, e dava pra notar pelo tom dele.
- Meia noite? Espere um minuto - que horas são?
- Quase amanhecendo. - Ele olhou em direção à janela, checando.
Bem, maldição. eu dormi o resto do dia e a noite inteira – desmaiei. - Merda. Desculpa por
isso, Seth. Você devia ter me chutado até que eu acordasse.
- Não, cara, você precisava dormir demais. Você não tirava uma folga desde quando? A noite
anterior à sua última patrulha para Sam? Tipo, quarenta horas? Cinqüenta? Você não é uma
máquina, Jake. Além do mais, você não fez falta nenhuma.
Nenhuma? Eu olhei rapidamente para Bella. A cor dela estava de volta do jeito que eu
lembrava. Pálida, mas com um fundo rosado. Até o cabelo dela parecia melhor – mais brilhante.
Ela viu minha observação e sorriu pra mim.
- Como está a costela? - Eu perguntei.
- Presa no lugar com força. Eu nem sinto.
Eu revirei os olhos. Eu ouvi Edward apertando os dentes, e me dei conta que a atitude ‘deixa
isso pra lá’ dela irritava ele tanto quanto a mim.
- O que tem pro café da manhã? - Eu perguntei, meio sarcástico. - O negativo ou AB
positivo?
Ela deu língua pra mim. Ela estava totalmente de volta. - Omeletes - ela disse, mas os olhos
dela olharam pra baixo, e eu vi que o copo de sangue estava preso entre a perna dela e a de
Edward.
- Vá comer alguma coisa, Jake - Seth disse. - Tem um monte de coisa na cozinha. Você deve
estar faminto.
Eu examinei a comida no colo dele. Parecia ser a metade de um omelete de queijo e a
última parte de um rolo de canela gigante. Meu estômago roncou, mas eu o ignorei.
- O que Leah está comendo no café da manhã? - Eu perguntei criticamente a Seth.
- Hey, eu levei a comida pra ela antes de comer qualquer coisa - ele se defendeu. - Ela disse
que preferia comer alguma coisa que morreu na estrada, mas eu aposto que ela se arrependeu.
Esses rolos de canela... - Ele pareceu não encontrar as palavras.
- Então eu vou caçar com ela.
Seth suspirou enquanto se virava pra ir embora.
- Um momento, Jacob?
Era Carlisle chamando, então eu me virei novamente, meu rosto provavelmente estava
menos desrespeitoso do que estaria se outra pessoa tivesse me parado.
- Sim?
Carlisle se aproximou de mim enquanto Esme ia para a outra sala. Ele parou a alguns metros
de distância, apenas um pouco mais distantes do que o espaço normal entre dois humanos
conversando. Eu gostei dele ter me dado espaço.
- Falando de caçar - ele começou num tom sombrio. - Isso vai ser um problema para a
minha família. Eu entendo que a nossa trégua antiga está não está em operação nesse momento
então eu decidi pedir seu conselho. Sam estará nos caçando fora dos perímetros que vocês
criaram? Nós não queremos dar nenhuma chance de machucarem a nossa família – ou perder um
dos nossos. Se você estivesse em nosso lugar, como iria proceder?
Eu me afastei, um pouco surpreso, quando ele me deu a ver de falar daquele jeito. O que eu
podia saber sobre ser um sugador de sangue que usava sapatos caros?
Mas também, eu conhecia Sam.
- É um risco - tentando ignorar os outros olhos que eu sentia em mim e falar só pra ele. -
Sam se acalmou um pouco, mas eu tenho certeza que na mente dele, o trato significa nada.
Enquanto ele achar que a tribo, ou qualquer outro humano, está em perigo real, ele não vai fazer
perguntas antes, se é que você sabe o que eu quero dizer. Mas, com tudo isso, a prioridade dele
será La Push. Realmente eles não são um número suficiente para cuidar decentemente das
pessoas e fazer caçadas grandes o suficiente para causar dano. Eu aposto que ele vai ficar perto
de casa.
Carlisle balançou a cabeça, pensativo.
- Então eu acho que eu diria, saiam todos juntos, só por via das dúvidas. E provavelmente
vocês devam ir de dia, porque nós estaríamos esperando a noite. Coisas tradicionais de vampiros.
Vocês são rápidos – vão para as montanhas e façam a caçada longe o suficiente para que não
haja uma chance dele mandar alguém pra tão longe de casa.
- E deixar Bella pra trás, desprotegida?
Eu bufei. - E nós somos o que, um fígado desmembrado?
Carlisle riu, e então o rosto dele ficou sério de novo. - Jacob, você não pode lutar com os
seus irmãos.
Meus olhos se estreitaram. - Eu não estou dizendo que isso não seria difícil, mas se eles
realmente viessem mata-la – eu seria capaz de parar eles.
Carlisle balançou a cabeça, ansioso. - Não, eu não quis dizer que você seria... incapaz. Mas
que seria muito errado. E eu não posso ter isso em minha consciência.
- Não seria na sua, Doutor. Seria na minha. E eu posso agüentar.
- Não, Jacob. Nós tomaremos as precauções para que nossas ações não façam com que haja
essa necessidade. - Ele fez uma cara pensativa. - Nós iremos três de cada vez - ele decidiu depois
de um segundo. - Isso provavelmente é o melhor que podemos fazer.
- Eu não sei, Doutor. Se dividir no meio não é a melhor estratégia.
- Nós temos algumas habilidades extras que irão nos igualar. Se Edward for um dos três, ele
será capaz de nós dar alguns quilômetros de segurança.
Nós dois olhamos para Edward. A expressão dele fez Carlisle mudar de idéia rapidamente.
- Eu tenho certeza que existem outras maneiras também - Carlisle disse.
Claramente, não havia nenhuma necessidade física forte o suficiente para afastar Edward de
Bella agora. - Alice, eu imagino que você possa ver quais rotas poderiam ser um erro?
- As que desaparecem - Alice disse, balançando a cabeça. - Fácil.
Edward, que tinha ficado todo tenso com o plano inicial de Carlisle, se tranqüilizou. Bella
estava olhando pouco feliz para Alice, aquela ruginha que aparecia entre os olhos quando ela se
estressava apareceu.
- Tudo bem, então. - Eu disse. - Isso está arranjado. Eu vou indo. Seth, eu espero que você
esteja de volta ao anoitecer, então tire uma soneca aqui em algum lugar, tudo bem?
- Claro, Jake. Eu vou me transformar assim que eu terminar. A não ser... - Ele hesitou,
olhando pra Bella. - Você precisa de mim?
- Ela tem cobertores. - Eu rebati pra ele.
- Eu estou bem, Seth, obrigada - Bella disse rapidamente.
E então Esme apareceu novamente na sala, um grande prato coberto nas mãos. Ela parou
hesitantemente logo atrás do cotovelo de Carlisle, seus grandes olhos dourados no meu rosto. Ele
ergueu o prato e deu outro passo tímido para a frente.
- Jacob - ela disse baixinho. A voz dela não era tão penetrante quanto as dos outros. - Eu sei
que... não é apetitosa pra você, a idéia de comer aqui, onde o cheiro é tão desagradável. Mas eu
me sentiria muito melhor se você levasse um pouco de comida com você quando você se for. Eu
sei que você não pode voltar pra casa, e isso é por nossa causa. Por favor – alivie um pouco do
meu remorso. Leve algo para comer. - Ela segurou a comida pra mim, seu rosto suave e
implorativo. Eu não sei como ela fazia isso, porque ela não aparentava ter mais de uns vinte e
poucos, e ela também era pálida feito osso, mas alguma coisa na expressão dela me fez lembrar
da minha mãe.
Nossa.
- Uh, claro, claro - eu murmurei. - Eu acho. Talvez Leah ainda esteja com fome ou algo
assim.
Eu me inclinei e peguei a comida com uma mão, segurando-o longe, a um braço de
distância. Eu ia joga-lo embaixo de uma árvore ou algo assim. Eu não queria que ela se sentisse
mal.
Então eu lembrei de Edward.
Não diga nada a ela! deixe ela pensar que eu comi.
Eu não olhei pra ele pra ver se ele estava de acordo. Era melhor que ele estivesse de
acordo. O sugador de sangue estava me devendo.
- Obrigada, Jacob - Esme disse, sorrindo pra mim. Como um rosto de pedra tinha covinhas
nas bochechas, pra começo de história?
- Um, obrigado você - eu disse. Meu rosto ficou quente – mais quente que o normal.
Esse era o problema de andar por aí com vampiros – você se acostumava com eles. Eles
começavam a mexer com a sua forma de ver o mundo. Ele começavam a parecer nossos amigos.
- Você vai voltar mais tarde, Jake? - Bella perguntou enquanto eu tentava fugir.
- Uh, eu não sei.
Ela apertou os lábios, como se estivesse tentando não sorrir. - Por favor? Eu posso ficar com
frio.
Eu inalei profundamente pelo meu nariz, e então me dei conta, tarde demais, que essa não
foi uma boa idéia. Eu gemi. - Talvez.
- Jacob? - Esme perguntou. Eu fui andando de costas até a porta enquanto ela continuava;
ela deu alguns passos me seguindo. - Eu deixei uma cesta de roupas na varanda. Elas são para
Leah. Elas foram lavadas – eu tentei tocar nelas o mínimo possível. - Ela fez uma careta. - Você se
importaria em levar para ela?
- Farei isso - eu murmurei, e então sai pela porta antes que mais alguém me obrigasse a
fazer alguma coisa por culpa.
(heloisa santos)
Nenhum comentário:
Postar um comentário