9 – CERTO COMO O INFERNO NÃO SABIA DAQUELA CHEGADA
Eu realmente não pretendia dizer adeus pro meu pai.
Depois de tudo, uma ligação pra Sam e a caça estaria ponta. Eles me interceptariam e me
trariam de volta. Provavelmente tentariam me deixar nervoso, ou mesmo me machucar - de
alguma forma me forçar a ouvir Sam ditar uma nova ordem. Mas Billy estava e esperando,
sabendo que eu estaria meio atordoado. Ele estava no jardim, apenas sentado em sua cadeira de
rodas e seus olhos exatamente no ponto onde eu apareceria através das árvores. Eu vi ele
olhando na minha direção - diretamente da casa pra minha garagem.
- Tem um minuto, Jake?
Eu parei por um instante. Olhei pra ele diretamente da garagem.
- Venha, garoto. Ao menos me ajude a entrar em casa.
Eu rangi dentes mas decidi que era melhor pra não causar problemas pro Sam se eu não
mentisse pra ele por alguns minutos.
- Desde de quando você precisa de ajuda, velho?
Ele riu aquela sua risada estrondosa. - Meus braços estão cansados. Eu me empurrei por
todo o caminho da casa de Sue.
- É uma decida. Você deslizou o tempo todo.
Eu girei a cadeira dele pra cima da pequena rampa que eu fiz pra ele na sala de estar.
- Me pegou. Acho que ultrapassei os sessenta quilômetros por hora. Foi bom.
- Você ainda vai quebrar essa cadeira, você sabe. E aí você vai ter que se carregar pelos
cotovelos.
- Nem vem. O trabalho de me carregar será todo seu.
- Você não irá a muitos lugares.
Billy colocou suas mãos nas rodas e se dirigiu à geladeira. - Ainda tem alguma coisa pra
comer?
- Me pegou. Paul ficou aqui o dia todo, então, provavelmente não.
Billy suspirou. - Tenho que começar a esconder as coisas se não quisermos morrer de fome.
- Diga a Rachel pra ir pra casa dele.
O tom de piada do Billy se desfez, e seus olhos ficaram mais ternos. - Nós a temos em casa
por apenas alguns meses. É a primeira vez que ela fica por tanto tempo. É difícil - as garotas são
mais velhas que você quando a sua mãe morreu. Eles tem maiores problemas pra ficar nessa casa.
- Eu sei.
Rebecca não vinha em casa desde que se casou, mas ela tinha uma desculpa. As passagens
de avião do Havaí eram bem caras. Washington era bem perto então Rachel não tinha a mesma
desculpa. Ela pegava turmas direto no semestre de verão, trabalhando turnos dobrados em algum
café no campus. Se não fosse o Paul, ela provavelmente já teria voltado há algum tempo. Talvez
fosse por isso que Billy ainda não o havia expulsado.
- Bem, eu vou trabalhar em algumas coisas... - Eu fui pra porta de trás.
- Espere, Jake. Você não vai me dizer o que aconteceu? Eu vou ter que ligar pro Sam pra
saber?
Eu fiquei de costas pra ele, escondendo minha cara.
- Não aconteceu nada. Sam está dando a eles a chance. Acho que agora somos adoradores
de sanguessuga.
- Jake...
- Eu não quero falar sobre isso.
- Você está partindo, filho?
O cômodo ficou quieto por um longo tempo enquanto eu decidia como eu iria dizer aquilo.
- Rachel pode ficar com o quarto dela de volta. Eu sei que ela odeia o colchão de ar.
- Ela preferiria dormir no chão que perder você. Eu também.
Eu bufei.
- Jacob, por favor. Se você precisa... de um tempo. Bem, tire um tempo. Mas não por tanto
tempo de novo. Volte.
- Talvez. Talvez eu venha pros casamentos. Venha pro do Sam, depois, o da Rachel. Jared e
Kim devem vir logo depois. Provavelmente eu devesse ter um terno ou algo do tipo.
- Jake, olhe pra mim.
Eu me virei lentamente.
- O que?
Ele olhou nos meus olhos por um longo minuto. - Pra onde você está indo?
- Eu não tenho um lugar específico em mente.
Ele virou a cabeça pro lado, olhos marejados. - Não tem?
Nós nos olhamos. Os segundos passaram.
- Jacob - ele disse. Sua voz estava forte. - Jacob, não. Não vale a pena.
- Não sei do que você está falando.
- Deixa a Bella e os Cullen. Sam está certo.
Eu olhei pra ele por um instante, e então cruzei os cômodo em duas passadas largas. Peguei
o telefone e desconectei o cabo do fone e do gancho. Peguei o fio cinza.
- Adeus, pai.
- Jake, espere - ele me chamou, mas eu já tinha saído pela porta, correndo.
A moto não era tão rápida quanto a minha corrida, mas era mais discreta. Eu pensei quanto
tempo levaria até que Billy conseguisse chegar à loja e então ligar para alguém que pudesse dar o
recado à Sam. O problema seria se Paul voltasse pra casa mais cedo. Ele poderia transformar-se
em um segundo e avisar Sam sobre o que eu estava fazendo...
Eu não ia me preocupar com isso. Eu iria o mais rápido que pudesse, se eles me
alcançassem, eu faria o que devia ser feito.
Eu liguei a moto e então estava descendo pelo terreno lamacento. Eu não olhei pra trás
quando passei pela casa.
A rodovia estava cheia de turistas; eu costurei pelos carros, ganhando um monte de
buzinadas e dedos. Fiz o cortorno na 101 no quilômetro 110, sem olhar. Eu tive andar na linha por
um minuto pra evitar que uma minivan me pegasse. Não que aquilo me mataria, mas me deixaria
mais lento. Quebraria ossos- os maiores, pelo menos - levariam dias pra colar completamente, eu
tinha experiência própria.
O caminho foi liberado um pouco, e então eu coloquei a moto a mais de 120. Eu não toquei
nos freios até que eu estivesse perto o suficiente; eu percebi que estava na clareira então. Sam
não viria tão longe pra me impedir. Era tarde demais.
Não não estava até aquele momento - quando eu estava certo que eu fiz - que eu comecei a
pensar no que eu estava prestes a fazer agora. E diminuí pra quase 40, fazendo as curvas mais
cuidadosamente que o necessário.
Eu sabia que eles me ouviriam chegar, com ou sem moto, então, sem surpresas. Não havia
como desviar a atenção. Edward ouviria o meu plano assim que eu estivesse perto o suficiente.
Talvez ele já até pudesse ouvir. Eu ainda achava que iria funcionar, porque eu tinha o ego dele ao
meu lado. Ele iria querer lutar comigo sozinho.
Então, eu apenas entrei, veria a preciosa evidência de Sam eu mesmo, e então desafiaria
Edward pra um duelo.
Eu bufei. O parasita provavelmente dispensaria as teatralidades.
Quando eu tivesse acabado com ele, eu pegaria quantos deles eu conseguisse antes deles
me pegarem. Hun - eu imaginei se Sam consideraria minha morte uma provocação.
Provavelmente diria que eu tive o que mereci. Eles não iriam ofender os melhores amigos de
infância sanguessugas.
A estrada abriu uma clareira, e o cheiro me atingiu como uma tomatada na cara. Ugh.
Vampios fedorentos. Meu estômago começou a embrulhar. O fedor ficaria pior dali em diante -
exceto pelo cheiros dos humanos que deviam ser de outra vez que eu fui ali - embora não pior
que o cheio pro meu nariz de lobo.
Eu não tinha certeza do que esperar, mas não havia sinais de vida pela grande cripta branca.
Claro que eles sabiam que eu estava ali.
Eu desliguei a moto e ouvi o silêncio. Agora eu podia ouvir a tensão, murmúios raivosos do
outro da porta. Tinha alguém em casa. Eu ouvi o meu nome e sorri, feliz por estar causando
algum estresse.
Respirei fundo - isso seria pior de fazer lá dentro - e subi as escadas da frente com um passo
só.
A porta se abriu antes mesmo que eu a tocasse, e o doutor apareceu, seus olhos mórbidos.
- Oi, Jacob - ele disse, mais calmo que o esperado. - Como vai você?
Eu respirei fundo de novo, pela boca. O fedor que saía pela porta era muito forte.
Eu estava despontado que fosse o Carlisle que tivesse atendido. Eu preferia que Edward tivesse
vindo atender a porta, bufando. Carlisle era muito... humano ou algo assim. Talvez fossem os
atendimentos em casa que ele fez na primavera passada quando eu estava destroçado. Mas foi
desconfortável olhar pra ele e ver que eu pretendia matá-lo se pudesse.
- Eu ouvi que Bella voltou pra casa viva - eu disse.
- Er, Jacob, não é realmente uma boa hora. - O doutor pareceu desconfortável, também,
mas não do jeito que eu esperava que ele estivesse. - Poderia ser outra hora?
Eu olhei pra ele confuso. Ele estava me pedindo pra adiar a luta final pra um momento mais
propício?
E então, eu ouvi a voz de Bella, quebrada e fraca, e eu não podia pensar em mais nada.
- Por que não? - ela perguntava alguma coisa. - Vocês estão mantendo segredo pro Jacob
também? O que importa?
A voz dela não estava como eu esperava. Eu tentava me lembrar da voz dos vampiros mais
jovens com quem lutamos na primavera passada, mas tudo o que eu registrei foram grunhidos.
Talvez os recém-nascidos não tivessem a profundidade, a melodia dos mais velhos, também.
Talvez todos os novos vampiros fossem roucos.
- Entre, por favor, Jacob - Bella disse mais alto.
Os olhos de Carlisle se apertaram.
Eu imaginei se Bella estava com sede. Meus olhos se estreitaram, também.
- Com licença - eu disse pro doutor enquanto entrava. Foi difícil - era contra todos os meus
instintos dar as costas pra algum deles. Mas não impossível. Se havia algum vampiro gentil, era o
estranho líder deles.
Eu ficaria longe do Carlisle quando a luta começasse. Havia bastante deles pra matar antes
dele.
Eu entrei na casa, mantendo minhas costas pra parede. Meus olhos percorreram a sala - não
me era familiar. A última vez que eu estive ali, estava tudo pronto pra uma festa. Tudo estava
claro e pálido agora. Incluindo os seis vampiros agrupados no sofá.
Eles estavam todos ali, todos juntos, mas não foi aquilo que me fez congelar onde eu estava.
Era Edward. Era a expressão que ele carregava.
Eu o havia visto com raiva, e o havia visto sendo arrogante, e uma vez o vi sofrer. Mas isso -
era além da agonia. Os olhos dele estavam meio lerdos. Ele não olhou pra cima pra me ver. Ele
olhou pra almofada ao seu lado como se alguém o tivesse tacado fogo nele. Suas mãos eram
como garras ao seu lado.
Eu não podia sequer gostar de sua angústia. Eu só podia pensar em uma coisa que poderia
fazê-lo ficar daquele jeito e meus olhos seguiram os dele.
Eu a vi no mesmo instante que senti o seu cheiro.
Seu doce, quente e humano cheiro.
Bella estava meio escondida pelo braço do sofá, em uma posição fetal, seus braços ao redor
de seus joelhos. Por um longo instante eu não pude ver nada além da Bella que eu amava, sua
pela ainda macia, cor de pêssego, seus olhos ainda eram cor de chocolate. Meu coração pulsou
numa estranha, quebrada batida, e eu pensei se estava sonhando e estava prestes a acordar.
Então, eu realmente a vi.
Havia profundos círculos roxos abaixo dos olhos dela, que se destacavam pelo seu rosto
fundo. Ela teria emagrecido? Sua pele parecia mais esticada - como se seus ossos fossem rasgá-la,
A maior parte do cabelo dela estava presa em um nó, mas algumas mechas escorriam pela sua
testa e pescoço, pro repledoroso suor que cobria sua pele. Havia um que de fragilidade em seus
pulsos e dedos que era assustador.
Ela estava doente. Muito doente.
Não era mentira. A história que Charlie disse para Billy não era apenas uma história.
Enquanto eu olhava, olhos esbugalhados, sua pele ficou meio esverdeada.
A sanguessuga loira - a mais aparecida, Rosalie - estava ao lado dela, atrapalhando a minha
visão, ficando de um estranho jeito protetor.
Isso estava errado. Eu sabia que como Bella se sentia sobre quase tudo - seus pensamentos
erma muito óbvios; algumas vezes era como se tivesse escrito em sua testa. Então ela nem
precisava me dizer os detalhes pra eu saber. Eu sabia que Bella não gostava de Rosalie. Eu podia
ver em seus lábios quando ela falava dela. Não era como se ela não gostasse dela. Ela tem medo
da Rosalie. Ou tinha.
Não havia medo no olhar que Bella lançou pra ela. A expressão dela era de súplica... ou algo
assim. Então Rosalie pegou uma bacia do hão e colocou embaixo do queixo de Bella bem a tempo
dela vomitar lá dentro.
Edward ficou de joelhos ao lado de Bella - os olhos dele pareciam de um torturado - e
Rosalie segurou a mão dela, alertando-o pra ficar longe.
Nada fazia sentido.
Quando ela pôde levantar a cabeça, Bella sorriu fraca pra mim, meio constrangida. -
Desculpe por isso - ela sussurrou pra mim.
Edward grunhiu quieto. A cabeça dele encostou-se aos joelhos de Bella, e ela colocou uma
das mãos em sua bochecha. Como se estivesse confortando ele.
Eu não sei como minhas pernas me levaram pra mais perto, até que Rosalie bufou pra mim,
de repente aparecendo entre o sofá e eu. Ela era como uma pessoa numa tela de TV. Eu não me
importa que ela estivesse ali. Ela não parecia real.
- Rose, não - Bella sussurrou. - Está tudo bem.
A loira saiu da minha frente, embora eu soubesse que ela detestou fazer isso. Fazendo cara
feia pra mim, ela agachou-se perto de Bella, pronta pra pular. Ela era mais fácil de se ignorar do
que eu tinha imaginado.
- Bella, o que há de errado? - Eu sussurrei. Sem pensar, eu me vi de joelhos também, caindo
sobre o sofá preto em frente ao... marido dela. Ele pareceu não me ver, e eu mal olhei pra ele. Eu
alcancei sua mão livre, segurando com as minhas duas.
A pele dela estava gélida. - você está bem?
Pergunta estúpida. Ela nem respondeu.
- Eu estou feliz que você tenha vindo me ver hoje, Jacob - ela disse.
Embora eu soubesse que Edward não podia ouvir os pensamentos dela, parecia que ele
tinha entendido algum coisa que eu não tinha. Ele gemeu de novo, no cobertor que a cobria, e ela
acariciou sua bochecha.
- O que é isso, Bella? - Eu insisti, segurando firme suas frágeis mãos.
Ao invés de responder, ela olhou pelo cômodo como se estivesse procurando alguma coisa,
em seu olhar, insegurança e certeza. Seis pares de olhos ansiosos olharam pra ela. Ela finalmente
disse pra Rosalie.
- Me ajude a levantar, Rose? - Ela pediu.
Rosalie mordeu os lábios, e ela olhou pra mim como se quisesse cortar a minha garganta. Eu
tinha certeza que era exatamente isso que ela queria.
- Por favor, Rose.
A loira fez uma cara, mas foi até ela de novo, perto de Edward, que não se moveu sequer
uma polegada. Ela pôs os braços cuidadosamente embaixo dos ombros de Bella.
- Não - eu sussurrei. - Não se levante... - Ela parecia muito fraca.
- Estou respondendo à sua pergunta - ela retrucou, soando mais próximo ao jeito que ela
costumava falar comigo.
Rosalie tirou Bella do sofá. Edward ficou onde ele estava, escorregando até que seu rosto
caísse nas almofadas. O cobertor caiu aos pés de Bella.
O corpo de Bella estava inchado, seu tronco estava de um estranho jeito, parecendo um
balão. Estava marcando a blusa cinza que ela vestia, que era grande demais para os seus ombros
e braços. O restante dela parecia mais magro, como se um grande volume tivesse sido sugado do
restante do corpo. Levou um tempo até que eu percebe-se qual parte estava deformada - eu não
entendi até que ela colocou as mãos ternamente sobre o seu estômago inchado, uma em cima e
uma embaixo. Como se ela estivesse aninhando aquilo.
Eu vi aquilo, mas eu ainda não conseguia acreditar. Eu a vi a menos de um mês atrás. Não
havia como ela estar grávida. Não daquele jeito.
A menos que ela estivesse.
Eu não queria ver aquilo, não queria pensar naquilo. Eu não queria pensar nele dentro dela.
Eu não queria saber que algo que eu odiava tanto tinha violado o corpo que eu amava. Meu
estômago revirou, e eu tive que engolir o vômito.
Mas pior que aquilo, muito pior. O corpo deformado dela, os ossos pressionando a pele do
rosto dela, eu só podia imaginar que ela parecia daquele jeito - tão grávida, tão doente - porque o
que quer que estivesse dentro dela, ele estava sugando a vida dela pra alimentar a si próprio...
Porque aquilo era um monstro. Como o pai.
Eu sempre soube que ele a mataria.
A cabeça dele levantou-se quando ele ouviu as palavras dentro da minha. Um segundo e
estávamos ambos de joelhos, e então ele estava de pé, altivo pra cima de mim. Os olhos dele
estavam bem negros, os círculos em torno deles bem escuros.
- Lá fora, Jacob - ele rosnou.
Eu me levantei também. Olhando de cima pra ele agora. Era pra isso que eu estava ali.
- Vamos fazer isso - eu concordei.
O maior, Emmet, empurrou Edward pro outro lado, junto com o esfomeado, Jasper, logo
atrás dele. Eu realmente não me importava.
Talvez o meu bando limpasse a sujeira depois que eles tivessem acabado comigo. Talvez
não. Não importava.
Por um décimo de segundo, meus olhos viram as duas figuras que estão atrás. Esme. Alice.
Mulheres pequenas e que distraíam. Bem, eu estava certo que os outros me matariam depois que
eu tivesse resolvido. Eu não queria matar garotas... mesmo garotas vampiras.
Embora eu pudesse abrir uma exceção pra loira.
- Não - Bella disse, e ela se moveu, desequilibrou-se, caindo nos braços de Edward. Rosalie
se moveu com ela, como se tivesse uma corrente prendendo uma à outra.
- Eu só preciso falar com ele, Bella - Edward disse com a voz baixa, falando apenas com ela.
Ele esticou-se para tocar seu rosto, para acariciá-lo. Isso fez o cômodo ficar vermelho, me fez
pegar fogo - aquilo, depois de tudo o que ele tinha feito pra ela, ele ainda podia tocá-la daquele
jeito. - Não se desgaste - ele suplicava. - Por favor, descanse. Nós estaremos de volta em alguns
minutos.
Ela olhou pra ele, cuidadosamente. Então ela concordou e sentou-se novamente no sofá.
Rosalie ajudou a se ajeitar nas almofadas. Bella olhou pra mim, tentando encontrar meus olhos.
- Comportem-se - ela insistiu. - E então, voltem.
Eu não respondi. Eu não faria promessas hoje. E desviei o olhar e então segui Edward pela
porta da frente.
Uma vozinha dentro da minha cabeça percebeu que não foi difícil tirá-lo de perto do clã, não
é mesmo?
Ele continuou andando, nunca olhando se eu estava prestes a atacar sua retaguarda
desprotegida. Eu supus que ele não precisava olhar. Ele saberia se eu decidisse atacar. O que
significava que eu teria que tomar a decisão bem rápido.
- Eu não estou pronto pra que você me mate, Jacob Black - ele sussurrou assim que nós
estávamos longe o suficiente da casa. - Você vai ter que ser um pouco paciente.
Como se eu me importasse com a agenda dele. Eu respirei fundo, confiante.
- Paciência é a minha especialidade.
Ele continuou andando, por mais alguns metros pra longe da casa, comigo bem nos
calcanhares dele. Eu estava todo quente, meus dedos queimando. No ponto, prontos e esperando.
Ele parou sem avisar e virou o rosto pra mim. A expressão dele me congelou de novo.
Por um segundo, eu era um garoto - um garoto que viveu toda a sua vida numa cidade
pequena. Só um garoto. Porque eu sabia que eu teria que viver muito mais, sofrer muito mais, pra
poder ao menos entender o sofrimento e a agonia nos olhos de Edward.
Ele levantou a mão como se fosse secar o suor de sua testa, mas seus dedos passaram pelo
seu rosto como se fossem rasgar sua pelo de granizo. Os seus olhos negros queimaram em suas
órbitas, fora de foco, ou vendo coisas que não estavam ali. A boca dele abriu como se ele fosse
gritar, mas nada saiu.
Era como encarar um homem que seria queimado vivo.
Por um momento, eu não podia falar. Era muito real, aquele rosto - eu tinha visto uma
sombra daquilo na casa, visto nos olhos dela, e nos dele, mas era o final. O último prego do caixão
dela.
- Aquilo a está matando, não é? Ela está morrendo. - E eu sabia quando eu disse que meu
rosto era um reflexo do dele. Mais fraco, diferente, porque eu ainda estava em choque. Eu ainda
não tinha colocado a minha cabeça no lugar - tinha sido muito rápido. Ele teve tempo pra digerir
tudo. E era diferente porque eu já a havia perdido muitas vezes, de vários modos, na minha
cabeça. E diferente porque ela nunca foi minha, de verdade.
E diferente porque não era minha culpa.
- Minha culpa - Edward sussurrou, e seus joelhos cederam. Ele se ajoelhou na minha frente,
vulnerável, o alvo mais fácil que eu poderia imaginar.
Mas eu parecia frio como a neve - não havia fogo em mim.
- Sim - ele gemeu pra terra, como se estivesse confessando pra ela. - Sim, aquilo a está
matando.
Seu desamparo estava me irritando. Eu queria uma briga, não uma execução. Onde estava
toda a presunção de superioridade dele agora?
- Então por que Carlisle não fez alguma coisa? - Eu rosnei. - Ele é médico, não? Tire isso
dela.
Ele olhou pra cima e então me disse com uma voz cansada. Como se estivesse explicando
pra uma criança, pela décima vez. - Ela não vai deixar.
Levou um minuto pra palavras descerem. Deus, ela estava mesmo disposta a isso. Claro,
morrer por um monstrinho. Isso era bem Bella.
- Você a conhece melhor - ele sussurrou. - Quão rápido você acha... eu não vejo. Não em
tempo. Ela não falaria comigo no caminho pra casa, não. Eu achei que ela estivesse com medo -
seria o natural. Eu pensei que ela estivesse com raiva de mim por tê-la sujeitado a tal, por ter
colocado a vida dela em perigo. De novo. Eu nunca imaginei que ela estava realmente pensando,
no que ela estava resolvida a fazer. Não até que a minha família nos encontrou no aeroporto e ela
correu pros braços de Rosalie. Os braços de Rosalie! E então, eu ouvi o que Rosalie estava
pensando. Eu não entendi até que ouvi. Até você percebeu depois de um segundo... - Ele desviou
o olhar, rosnando.
- Voltando um instante. Ela não vai deixar você. - O sarcasmo estava ácido na minha língua.
- Você já parou pra pensar que ela é tão forte quanto qualquer outra garota de 50 quilos? Quão
estúpidos são vocês vampiros? Segurem-na e nocauteiem-na com remédios.
- Eu quis fazer isso - ele suspirou. - Carlisle teria feito...
O que, eles eram tão nobres assim?
- Não. Não nobres. A guarda costas dela complicou as coisas.
Oh. A história dele não fez muito sentido antes, mas agora sim. Então era isso que a loira
estava fazendo. O que ela queria? A rainha da beleza queria tanto que Bella morresse?
- Talvez - ele disse. - Rosalie não vê as coisas bem desse jeito.
- Então, tire a loira do caminho primeiro. Sua espécie pode se regenerar não? Faça dela um
quebra-cabeças e cuide da Bella.
- Emmett e Esme estão tomando conta dela. Eles nunca nos deixariam... e Carlisle não me
ajudaria com Esme contra isso... - Ele aprou, sua voz desaparecendo.
- Você devia ter deixado a Bella comigo.
- Sim.
Era um pouco tarde pra isso. Talvez ele devesse ter pensado nisso antes que eles fizessem o
monstrinho sugador de vida.
Ele olhou pra mim de dentro do seu inferno particular, e eu podia ver que ele concordava
comigo.
- Nós não sabíamos - ele disse, palavras calmas como um suspiro. - Eu nunca pensei nisso.
Nunca houve algo como Bella e eu antes. Como nós poderíamos saber que uma humana poderia
conceber uma criança com um de nós –
- Quando as mulheres deviam ser rasgadas ao meio no processo?
- Sim - ele concordou num suspiro tenso. - Eles não eram daqui, os sádicos, incubus e
succubus. Eles existem. Mas a sedução é meramente um prelúdio pra festa. Ninguém sobrevive. -
Ele balançou a cabeça como se a idéia o revoltasse. Como se ele fosse muito diferente. - Mesmo
você, Jacob, Black, pode me odiar tanto quanto eu me odeio.
Errado, eu pensei, nervoso demais pra falar.
- Me matar agora não vai salvá-la - ele disse devagar.
- Então, o que a salva?
- Jacob, você tem que fazer uma coisa pra mim.
À merda, que eu faço, parasita!
Ele se manteve olhando pra mim com aqueles olhos cansados e transtornados.
- Por ela?
Eu fechei meus dentes com força. - Eu fiz o que eu pude pra mantê-la longe de você. Tudo o
que eu pude. É tarde demais.
- Você a conhece, Jacob. Você está ligado a ela de um jeito que eu não posso sequer
entender. Ela não vai me ouvir, porque ela acha que eu a estou subestimando. Ela acha que é
forte o suficiente pra isso... - Ele respirou e engoliu seco. - Ele pode escutar você.
- Por que ela escutaria?
Ele se balançou, seus olhos queimando mais brilhantes que antes, selvagens. Eu imaginei se
ele estava mesmo ficando louco. Poderiam vampiros perder a cabeça?
- Talvez - ele respondeu ao meu pensamento. - Eu não sei. Parece que sim. - Ele balançou a
cabeça. - Eu tenho que tentar esconder isso na frente dela, porque o estresse faz com que ela
fique mais fraca. Ela não pode ficar mais fraca. Eu tenho que me compor; Eu não posso fazer isso
ser mais difícil. Mas não importa agora. Ela tem que te escutar!
- Eu não posso dizer nada que você já não tenha dito. O que você quer que eu faça? Diga a
ela que ela é estúpida? Ela provavelmente já sabe disso. Diga que ela vai morrer? Aposto que ela
já sabe, também.
- Você pode oferecê-la o que ela quer.
Não estava fazendo sentido. Parte da loucura?
- Eu não me importo com mais nada, a não ser mantê-la viva - ele disse, de repente focado
no assunto. - Se são crianças o que ela quer, ela pode ter. Ela pode ter meia dúzia deles. Tudo o
que ela quiser. - Ele parou por um instante. - Ela pode ter filhotes, se é o que é preciso.
Ele encontrou o meu olhar por um momento e o rosto dele estava preso por um fio de
controle. Eu desfranzi minha testa enquanto processava as palavras dele, e senti a minha boca
abrir em choque.
- Mas não desse jeito - ele gritou antes que eu pudesse me recuperar. - Não essa coisa que
está sugando a vida dela enquanto eu fico aqui, de mãos atadas! Assistindo-a adoecer e
enfraquecer. Vendo isso machucando-a. - Ele respirou fundo rapidamente, como se alguém o
tivesse socado no estômago. - Você tem que fazê-la ver, Jacob. Ela não vai mais me ouvir. Rosalie
está sempre ali, alimentando essa loucura - encorajando-a. Protegendo-a. Não, protegendo aquilo.
A vida da Bella não significa muita coisa pra ela.
O barulho da minha garganta soava como se eu estivesse sufocando.
O que é que ele estava dizendo? Que a Bella deveria o que? Ter um bebê? Comigo? O que? Ele
estava desistindo dela? Ou ele pensou que ela não se importaria em ser dividida?
- Qualquer coisa. Qualquer coisa que a mantenha viva.
- Essa é a coisa mais louca que você já disse - eu resmunguei.
- Ela ama você.
- Não o bastante.
- Ela está prestes a morrer pra ter um filho. Talvez ela aceite algo menos extremo.
- Você não a conhece não?
- Eu sei, eu sei. Vai ter que ser bem convincente. É por isso que eu preciso de você. Você
sabe como ela pensa. Faça-a ver.
Eu não conseguia pensar no que ele estava sugerindo. Era demais. Impossível. Errado.
Doentio. Pegar Bella pra um fim de semana e depois devolvê-la como um filme na locadora?
Terrível.
Tão tentador.
Eu não queria considerar, não queria nem mesmo imaginar, mas as imagens vinham. Eu
fantasiei Bella, várias vezes, de volta onde ainda havia uma possibilidade de nós, e mesmo depois
de ter desfeito essas fantasias, elas permaneciam feridas abertas, porque não havia possibilidade,
no mais. Eu não tinha sido capaz de evitar. Eu não podia me impedir agora. Bella nos meus
braços, Bella suspirando o meu nome... Ainda pior, essa nova imagem que eu não tinha tido
antes, uma que não tinha sequer existido pra mim. Até agora. Uma imagem que eu sabia que eu
não teria sofrido por anos se ele não tivesse enfiado na minha cabeça. Mas estava lá, tecendo
teias no meu cérebro como ervas daninhas - venenosas e imortais. Bella, saudável e brilhante,
bem diferente de agora, mas algo era o mesmo: o corpo dela, não deformado, modificado de
modo mais natural. Protegendo meu filho.
Eu tentei escapar da rede venenosa na minha cabeça. - Fazer a Bella ver? Em qual universo
você vive?
- Ao menos tente.
Balancei minha cabeça rapidamente. Ele esperou, ignorando uma resposta negativa porque
ele podia ouvir o conflito na minha cabeça.
- De onde veio toda essa besteira? Você está fazendo isso pra que?
- Eu não tenho pensando em mais nada, a não ser maneiras de salvá-la desde que eu
percebi o que ela estava planejando. Pelo que ela pretendia morrer. Mas eu não sabia como falar
com você. Eu sei que você não atenderia se eu ligasse. Eu teria que achar um jeito se você não
tivesse vindo aqui hoje. Mas é difícil deixá-la, mesmo que por alguns minutos. A condição dela...
muda muito rápido. Essa coisa... está crescendo. Depressa. Eu não posso ficar longe dela agora.
- O que é aquilo?
- Nenhum de nós tem idéia. Mas é mais forte que ela. Já.
Eu pude de repente ver então - ver o monstrinho na minha cabeça, destruindo-a de dentro
pra fora.
- Me ajude a acabar com isso - ele sussurrou. - Me ajude a impedir que isso aconteça.
- Como? Oferecendo os meus serviços? - Ele não pareceu se aborrecer com o que eu disse,
mas eu sim. - Você é realmente doente. Ela nunca vai ouvir isso.
- Tente. Não há nada a perder agora. Vai doer fazer isso?
- Doeria em mim. Eu não tive doses de rejeição suficiente da Bella não?
- Um pouquinho de dor pra salvá-la? É um custo muito alto?
- Mas não vai funcionar.
- Talvez não. Talvez isso a deixe confusa. Talvez ela repense sua decisão. Um momento de
dúvida, é tudo o que eu preciso.
- E então você volta atrás na oferta? - estava brincando, Bella?
- Se ela quer um filho, é isso que ela vai ter. Eu não vou voltar atrás.
- Eu não podia acreditar nem mesmo que eu estava pensando sobre isso. Bella me socaria -
não que eu me importasse muito com isso, mas ela provavelmente quebraria a mão de novo. Eu
não devia ter deixado ele falar comigo, confundindo a minha cabeça. Eu devia era matá-lo agora.
- Não agora - ele suspirou. - Não ainda. Certo ou errado, isso vai matá-lo, e você sabe disso.
Não é necessário ser apressado. Se ela não te escutar, você terá sua chance. No momento em que
o coração da Bella parar de bater, eu vou implorar pra que você me mate.
- Você não vai precisar implorar muito.
A insinuação de um sorriso pareceu brotar-lhe no canto dos lábios. - Eu estou contando com
isso.
- Então, temos um trato.
Ele concordou e me estendeu sua mão fria e dura.
Engolindo minha repugnância, eu estendi a minha mão e alcancei a dele. Meus dedos
apertaram a rocha, e eu balancei uma vez.
- Temos um trato - ele concordou.
Eu realmente não pretendia dizer adeus pro meu pai.
Depois de tudo, uma ligação pra Sam e a caça estaria ponta. Eles me interceptariam e me
trariam de volta. Provavelmente tentariam me deixar nervoso, ou mesmo me machucar - de
alguma forma me forçar a ouvir Sam ditar uma nova ordem. Mas Billy estava e esperando,
sabendo que eu estaria meio atordoado. Ele estava no jardim, apenas sentado em sua cadeira de
rodas e seus olhos exatamente no ponto onde eu apareceria através das árvores. Eu vi ele
olhando na minha direção - diretamente da casa pra minha garagem.
- Tem um minuto, Jake?
Eu parei por um instante. Olhei pra ele diretamente da garagem.
- Venha, garoto. Ao menos me ajude a entrar em casa.
Eu rangi dentes mas decidi que era melhor pra não causar problemas pro Sam se eu não
mentisse pra ele por alguns minutos.
- Desde de quando você precisa de ajuda, velho?
Ele riu aquela sua risada estrondosa. - Meus braços estão cansados. Eu me empurrei por
todo o caminho da casa de Sue.
- É uma decida. Você deslizou o tempo todo.
Eu girei a cadeira dele pra cima da pequena rampa que eu fiz pra ele na sala de estar.
- Me pegou. Acho que ultrapassei os sessenta quilômetros por hora. Foi bom.
- Você ainda vai quebrar essa cadeira, você sabe. E aí você vai ter que se carregar pelos
cotovelos.
- Nem vem. O trabalho de me carregar será todo seu.
- Você não irá a muitos lugares.
Billy colocou suas mãos nas rodas e se dirigiu à geladeira. - Ainda tem alguma coisa pra
comer?
- Me pegou. Paul ficou aqui o dia todo, então, provavelmente não.
Billy suspirou. - Tenho que começar a esconder as coisas se não quisermos morrer de fome.
- Diga a Rachel pra ir pra casa dele.
O tom de piada do Billy se desfez, e seus olhos ficaram mais ternos. - Nós a temos em casa
por apenas alguns meses. É a primeira vez que ela fica por tanto tempo. É difícil - as garotas são
mais velhas que você quando a sua mãe morreu. Eles tem maiores problemas pra ficar nessa casa.
- Eu sei.
Rebecca não vinha em casa desde que se casou, mas ela tinha uma desculpa. As passagens
de avião do Havaí eram bem caras. Washington era bem perto então Rachel não tinha a mesma
desculpa. Ela pegava turmas direto no semestre de verão, trabalhando turnos dobrados em algum
café no campus. Se não fosse o Paul, ela provavelmente já teria voltado há algum tempo. Talvez
fosse por isso que Billy ainda não o havia expulsado.
- Bem, eu vou trabalhar em algumas coisas... - Eu fui pra porta de trás.
- Espere, Jake. Você não vai me dizer o que aconteceu? Eu vou ter que ligar pro Sam pra
saber?
Eu fiquei de costas pra ele, escondendo minha cara.
- Não aconteceu nada. Sam está dando a eles a chance. Acho que agora somos adoradores
de sanguessuga.
- Jake...
- Eu não quero falar sobre isso.
- Você está partindo, filho?
O cômodo ficou quieto por um longo tempo enquanto eu decidia como eu iria dizer aquilo.
- Rachel pode ficar com o quarto dela de volta. Eu sei que ela odeia o colchão de ar.
- Ela preferiria dormir no chão que perder você. Eu também.
Eu bufei.
- Jacob, por favor. Se você precisa... de um tempo. Bem, tire um tempo. Mas não por tanto
tempo de novo. Volte.
- Talvez. Talvez eu venha pros casamentos. Venha pro do Sam, depois, o da Rachel. Jared e
Kim devem vir logo depois. Provavelmente eu devesse ter um terno ou algo do tipo.
- Jake, olhe pra mim.
Eu me virei lentamente.
- O que?
Ele olhou nos meus olhos por um longo minuto. - Pra onde você está indo?
- Eu não tenho um lugar específico em mente.
Ele virou a cabeça pro lado, olhos marejados. - Não tem?
Nós nos olhamos. Os segundos passaram.
- Jacob - ele disse. Sua voz estava forte. - Jacob, não. Não vale a pena.
- Não sei do que você está falando.
- Deixa a Bella e os Cullen. Sam está certo.
Eu olhei pra ele por um instante, e então cruzei os cômodo em duas passadas largas. Peguei
o telefone e desconectei o cabo do fone e do gancho. Peguei o fio cinza.
- Adeus, pai.
- Jake, espere - ele me chamou, mas eu já tinha saído pela porta, correndo.
A moto não era tão rápida quanto a minha corrida, mas era mais discreta. Eu pensei quanto
tempo levaria até que Billy conseguisse chegar à loja e então ligar para alguém que pudesse dar o
recado à Sam. O problema seria se Paul voltasse pra casa mais cedo. Ele poderia transformar-se
em um segundo e avisar Sam sobre o que eu estava fazendo...
Eu não ia me preocupar com isso. Eu iria o mais rápido que pudesse, se eles me
alcançassem, eu faria o que devia ser feito.
Eu liguei a moto e então estava descendo pelo terreno lamacento. Eu não olhei pra trás
quando passei pela casa.
A rodovia estava cheia de turistas; eu costurei pelos carros, ganhando um monte de
buzinadas e dedos. Fiz o cortorno na 101 no quilômetro 110, sem olhar. Eu tive andar na linha por
um minuto pra evitar que uma minivan me pegasse. Não que aquilo me mataria, mas me deixaria
mais lento. Quebraria ossos- os maiores, pelo menos - levariam dias pra colar completamente, eu
tinha experiência própria.
O caminho foi liberado um pouco, e então eu coloquei a moto a mais de 120. Eu não toquei
nos freios até que eu estivesse perto o suficiente; eu percebi que estava na clareira então. Sam
não viria tão longe pra me impedir. Era tarde demais.
Não não estava até aquele momento - quando eu estava certo que eu fiz - que eu comecei a
pensar no que eu estava prestes a fazer agora. E diminuí pra quase 40, fazendo as curvas mais
cuidadosamente que o necessário.
Eu sabia que eles me ouviriam chegar, com ou sem moto, então, sem surpresas. Não havia
como desviar a atenção. Edward ouviria o meu plano assim que eu estivesse perto o suficiente.
Talvez ele já até pudesse ouvir. Eu ainda achava que iria funcionar, porque eu tinha o ego dele ao
meu lado. Ele iria querer lutar comigo sozinho.
Então, eu apenas entrei, veria a preciosa evidência de Sam eu mesmo, e então desafiaria
Edward pra um duelo.
Eu bufei. O parasita provavelmente dispensaria as teatralidades.
Quando eu tivesse acabado com ele, eu pegaria quantos deles eu conseguisse antes deles
me pegarem. Hun - eu imaginei se Sam consideraria minha morte uma provocação.
Provavelmente diria que eu tive o que mereci. Eles não iriam ofender os melhores amigos de
infância sanguessugas.
A estrada abriu uma clareira, e o cheiro me atingiu como uma tomatada na cara. Ugh.
Vampios fedorentos. Meu estômago começou a embrulhar. O fedor ficaria pior dali em diante -
exceto pelo cheiros dos humanos que deviam ser de outra vez que eu fui ali - embora não pior
que o cheio pro meu nariz de lobo.
Eu não tinha certeza do que esperar, mas não havia sinais de vida pela grande cripta branca.
Claro que eles sabiam que eu estava ali.
Eu desliguei a moto e ouvi o silêncio. Agora eu podia ouvir a tensão, murmúios raivosos do
outro da porta. Tinha alguém em casa. Eu ouvi o meu nome e sorri, feliz por estar causando
algum estresse.
Respirei fundo - isso seria pior de fazer lá dentro - e subi as escadas da frente com um passo
só.
A porta se abriu antes mesmo que eu a tocasse, e o doutor apareceu, seus olhos mórbidos.
- Oi, Jacob - ele disse, mais calmo que o esperado. - Como vai você?
Eu respirei fundo de novo, pela boca. O fedor que saía pela porta era muito forte.
Eu estava despontado que fosse o Carlisle que tivesse atendido. Eu preferia que Edward tivesse
vindo atender a porta, bufando. Carlisle era muito... humano ou algo assim. Talvez fossem os
atendimentos em casa que ele fez na primavera passada quando eu estava destroçado. Mas foi
desconfortável olhar pra ele e ver que eu pretendia matá-lo se pudesse.
- Eu ouvi que Bella voltou pra casa viva - eu disse.
- Er, Jacob, não é realmente uma boa hora. - O doutor pareceu desconfortável, também,
mas não do jeito que eu esperava que ele estivesse. - Poderia ser outra hora?
Eu olhei pra ele confuso. Ele estava me pedindo pra adiar a luta final pra um momento mais
propício?
E então, eu ouvi a voz de Bella, quebrada e fraca, e eu não podia pensar em mais nada.
- Por que não? - ela perguntava alguma coisa. - Vocês estão mantendo segredo pro Jacob
também? O que importa?
A voz dela não estava como eu esperava. Eu tentava me lembrar da voz dos vampiros mais
jovens com quem lutamos na primavera passada, mas tudo o que eu registrei foram grunhidos.
Talvez os recém-nascidos não tivessem a profundidade, a melodia dos mais velhos, também.
Talvez todos os novos vampiros fossem roucos.
- Entre, por favor, Jacob - Bella disse mais alto.
Os olhos de Carlisle se apertaram.
Eu imaginei se Bella estava com sede. Meus olhos se estreitaram, também.
- Com licença - eu disse pro doutor enquanto entrava. Foi difícil - era contra todos os meus
instintos dar as costas pra algum deles. Mas não impossível. Se havia algum vampiro gentil, era o
estranho líder deles.
Eu ficaria longe do Carlisle quando a luta começasse. Havia bastante deles pra matar antes
dele.
Eu entrei na casa, mantendo minhas costas pra parede. Meus olhos percorreram a sala - não
me era familiar. A última vez que eu estive ali, estava tudo pronto pra uma festa. Tudo estava
claro e pálido agora. Incluindo os seis vampiros agrupados no sofá.
Eles estavam todos ali, todos juntos, mas não foi aquilo que me fez congelar onde eu estava.
Era Edward. Era a expressão que ele carregava.
Eu o havia visto com raiva, e o havia visto sendo arrogante, e uma vez o vi sofrer. Mas isso -
era além da agonia. Os olhos dele estavam meio lerdos. Ele não olhou pra cima pra me ver. Ele
olhou pra almofada ao seu lado como se alguém o tivesse tacado fogo nele. Suas mãos eram
como garras ao seu lado.
Eu não podia sequer gostar de sua angústia. Eu só podia pensar em uma coisa que poderia
fazê-lo ficar daquele jeito e meus olhos seguiram os dele.
Eu a vi no mesmo instante que senti o seu cheiro.
Seu doce, quente e humano cheiro.
Bella estava meio escondida pelo braço do sofá, em uma posição fetal, seus braços ao redor
de seus joelhos. Por um longo instante eu não pude ver nada além da Bella que eu amava, sua
pela ainda macia, cor de pêssego, seus olhos ainda eram cor de chocolate. Meu coração pulsou
numa estranha, quebrada batida, e eu pensei se estava sonhando e estava prestes a acordar.
Então, eu realmente a vi.
Havia profundos círculos roxos abaixo dos olhos dela, que se destacavam pelo seu rosto
fundo. Ela teria emagrecido? Sua pele parecia mais esticada - como se seus ossos fossem rasgá-la,
A maior parte do cabelo dela estava presa em um nó, mas algumas mechas escorriam pela sua
testa e pescoço, pro repledoroso suor que cobria sua pele. Havia um que de fragilidade em seus
pulsos e dedos que era assustador.
Ela estava doente. Muito doente.
Não era mentira. A história que Charlie disse para Billy não era apenas uma história.
Enquanto eu olhava, olhos esbugalhados, sua pele ficou meio esverdeada.
A sanguessuga loira - a mais aparecida, Rosalie - estava ao lado dela, atrapalhando a minha
visão, ficando de um estranho jeito protetor.
Isso estava errado. Eu sabia que como Bella se sentia sobre quase tudo - seus pensamentos
erma muito óbvios; algumas vezes era como se tivesse escrito em sua testa. Então ela nem
precisava me dizer os detalhes pra eu saber. Eu sabia que Bella não gostava de Rosalie. Eu podia
ver em seus lábios quando ela falava dela. Não era como se ela não gostasse dela. Ela tem medo
da Rosalie. Ou tinha.
Não havia medo no olhar que Bella lançou pra ela. A expressão dela era de súplica... ou algo
assim. Então Rosalie pegou uma bacia do hão e colocou embaixo do queixo de Bella bem a tempo
dela vomitar lá dentro.
Edward ficou de joelhos ao lado de Bella - os olhos dele pareciam de um torturado - e
Rosalie segurou a mão dela, alertando-o pra ficar longe.
Nada fazia sentido.
Quando ela pôde levantar a cabeça, Bella sorriu fraca pra mim, meio constrangida. -
Desculpe por isso - ela sussurrou pra mim.
Edward grunhiu quieto. A cabeça dele encostou-se aos joelhos de Bella, e ela colocou uma
das mãos em sua bochecha. Como se estivesse confortando ele.
Eu não sei como minhas pernas me levaram pra mais perto, até que Rosalie bufou pra mim,
de repente aparecendo entre o sofá e eu. Ela era como uma pessoa numa tela de TV. Eu não me
importa que ela estivesse ali. Ela não parecia real.
- Rose, não - Bella sussurrou. - Está tudo bem.
A loira saiu da minha frente, embora eu soubesse que ela detestou fazer isso. Fazendo cara
feia pra mim, ela agachou-se perto de Bella, pronta pra pular. Ela era mais fácil de se ignorar do
que eu tinha imaginado.
- Bella, o que há de errado? - Eu sussurrei. Sem pensar, eu me vi de joelhos também, caindo
sobre o sofá preto em frente ao... marido dela. Ele pareceu não me ver, e eu mal olhei pra ele. Eu
alcancei sua mão livre, segurando com as minhas duas.
A pele dela estava gélida. - você está bem?
Pergunta estúpida. Ela nem respondeu.
- Eu estou feliz que você tenha vindo me ver hoje, Jacob - ela disse.
Embora eu soubesse que Edward não podia ouvir os pensamentos dela, parecia que ele
tinha entendido algum coisa que eu não tinha. Ele gemeu de novo, no cobertor que a cobria, e ela
acariciou sua bochecha.
- O que é isso, Bella? - Eu insisti, segurando firme suas frágeis mãos.
Ao invés de responder, ela olhou pelo cômodo como se estivesse procurando alguma coisa,
em seu olhar, insegurança e certeza. Seis pares de olhos ansiosos olharam pra ela. Ela finalmente
disse pra Rosalie.
- Me ajude a levantar, Rose? - Ela pediu.
Rosalie mordeu os lábios, e ela olhou pra mim como se quisesse cortar a minha garganta. Eu
tinha certeza que era exatamente isso que ela queria.
- Por favor, Rose.
A loira fez uma cara, mas foi até ela de novo, perto de Edward, que não se moveu sequer
uma polegada. Ela pôs os braços cuidadosamente embaixo dos ombros de Bella.
- Não - eu sussurrei. - Não se levante... - Ela parecia muito fraca.
- Estou respondendo à sua pergunta - ela retrucou, soando mais próximo ao jeito que ela
costumava falar comigo.
Rosalie tirou Bella do sofá. Edward ficou onde ele estava, escorregando até que seu rosto
caísse nas almofadas. O cobertor caiu aos pés de Bella.
O corpo de Bella estava inchado, seu tronco estava de um estranho jeito, parecendo um
balão. Estava marcando a blusa cinza que ela vestia, que era grande demais para os seus ombros
e braços. O restante dela parecia mais magro, como se um grande volume tivesse sido sugado do
restante do corpo. Levou um tempo até que eu percebe-se qual parte estava deformada - eu não
entendi até que ela colocou as mãos ternamente sobre o seu estômago inchado, uma em cima e
uma embaixo. Como se ela estivesse aninhando aquilo.
Eu vi aquilo, mas eu ainda não conseguia acreditar. Eu a vi a menos de um mês atrás. Não
havia como ela estar grávida. Não daquele jeito.
A menos que ela estivesse.
Eu não queria ver aquilo, não queria pensar naquilo. Eu não queria pensar nele dentro dela.
Eu não queria saber que algo que eu odiava tanto tinha violado o corpo que eu amava. Meu
estômago revirou, e eu tive que engolir o vômito.
Mas pior que aquilo, muito pior. O corpo deformado dela, os ossos pressionando a pele do
rosto dela, eu só podia imaginar que ela parecia daquele jeito - tão grávida, tão doente - porque o
que quer que estivesse dentro dela, ele estava sugando a vida dela pra alimentar a si próprio...
Porque aquilo era um monstro. Como o pai.
Eu sempre soube que ele a mataria.
A cabeça dele levantou-se quando ele ouviu as palavras dentro da minha. Um segundo e
estávamos ambos de joelhos, e então ele estava de pé, altivo pra cima de mim. Os olhos dele
estavam bem negros, os círculos em torno deles bem escuros.
- Lá fora, Jacob - ele rosnou.
Eu me levantei também. Olhando de cima pra ele agora. Era pra isso que eu estava ali.
- Vamos fazer isso - eu concordei.
O maior, Emmet, empurrou Edward pro outro lado, junto com o esfomeado, Jasper, logo
atrás dele. Eu realmente não me importava.
Talvez o meu bando limpasse a sujeira depois que eles tivessem acabado comigo. Talvez
não. Não importava.
Por um décimo de segundo, meus olhos viram as duas figuras que estão atrás. Esme. Alice.
Mulheres pequenas e que distraíam. Bem, eu estava certo que os outros me matariam depois que
eu tivesse resolvido. Eu não queria matar garotas... mesmo garotas vampiras.
Embora eu pudesse abrir uma exceção pra loira.
- Não - Bella disse, e ela se moveu, desequilibrou-se, caindo nos braços de Edward. Rosalie
se moveu com ela, como se tivesse uma corrente prendendo uma à outra.
- Eu só preciso falar com ele, Bella - Edward disse com a voz baixa, falando apenas com ela.
Ele esticou-se para tocar seu rosto, para acariciá-lo. Isso fez o cômodo ficar vermelho, me fez
pegar fogo - aquilo, depois de tudo o que ele tinha feito pra ela, ele ainda podia tocá-la daquele
jeito. - Não se desgaste - ele suplicava. - Por favor, descanse. Nós estaremos de volta em alguns
minutos.
Ela olhou pra ele, cuidadosamente. Então ela concordou e sentou-se novamente no sofá.
Rosalie ajudou a se ajeitar nas almofadas. Bella olhou pra mim, tentando encontrar meus olhos.
- Comportem-se - ela insistiu. - E então, voltem.
Eu não respondi. Eu não faria promessas hoje. E desviei o olhar e então segui Edward pela
porta da frente.
Uma vozinha dentro da minha cabeça percebeu que não foi difícil tirá-lo de perto do clã, não
é mesmo?
Ele continuou andando, nunca olhando se eu estava prestes a atacar sua retaguarda
desprotegida. Eu supus que ele não precisava olhar. Ele saberia se eu decidisse atacar. O que
significava que eu teria que tomar a decisão bem rápido.
- Eu não estou pronto pra que você me mate, Jacob Black - ele sussurrou assim que nós
estávamos longe o suficiente da casa. - Você vai ter que ser um pouco paciente.
Como se eu me importasse com a agenda dele. Eu respirei fundo, confiante.
- Paciência é a minha especialidade.
Ele continuou andando, por mais alguns metros pra longe da casa, comigo bem nos
calcanhares dele. Eu estava todo quente, meus dedos queimando. No ponto, prontos e esperando.
Ele parou sem avisar e virou o rosto pra mim. A expressão dele me congelou de novo.
Por um segundo, eu era um garoto - um garoto que viveu toda a sua vida numa cidade
pequena. Só um garoto. Porque eu sabia que eu teria que viver muito mais, sofrer muito mais, pra
poder ao menos entender o sofrimento e a agonia nos olhos de Edward.
Ele levantou a mão como se fosse secar o suor de sua testa, mas seus dedos passaram pelo
seu rosto como se fossem rasgar sua pelo de granizo. Os seus olhos negros queimaram em suas
órbitas, fora de foco, ou vendo coisas que não estavam ali. A boca dele abriu como se ele fosse
gritar, mas nada saiu.
Era como encarar um homem que seria queimado vivo.
Por um momento, eu não podia falar. Era muito real, aquele rosto - eu tinha visto uma
sombra daquilo na casa, visto nos olhos dela, e nos dele, mas era o final. O último prego do caixão
dela.
- Aquilo a está matando, não é? Ela está morrendo. - E eu sabia quando eu disse que meu
rosto era um reflexo do dele. Mais fraco, diferente, porque eu ainda estava em choque. Eu ainda
não tinha colocado a minha cabeça no lugar - tinha sido muito rápido. Ele teve tempo pra digerir
tudo. E era diferente porque eu já a havia perdido muitas vezes, de vários modos, na minha
cabeça. E diferente porque ela nunca foi minha, de verdade.
E diferente porque não era minha culpa.
- Minha culpa - Edward sussurrou, e seus joelhos cederam. Ele se ajoelhou na minha frente,
vulnerável, o alvo mais fácil que eu poderia imaginar.
Mas eu parecia frio como a neve - não havia fogo em mim.
- Sim - ele gemeu pra terra, como se estivesse confessando pra ela. - Sim, aquilo a está
matando.
Seu desamparo estava me irritando. Eu queria uma briga, não uma execução. Onde estava
toda a presunção de superioridade dele agora?
- Então por que Carlisle não fez alguma coisa? - Eu rosnei. - Ele é médico, não? Tire isso
dela.
Ele olhou pra cima e então me disse com uma voz cansada. Como se estivesse explicando
pra uma criança, pela décima vez. - Ela não vai deixar.
Levou um minuto pra palavras descerem. Deus, ela estava mesmo disposta a isso. Claro,
morrer por um monstrinho. Isso era bem Bella.
- Você a conhece melhor - ele sussurrou. - Quão rápido você acha... eu não vejo. Não em
tempo. Ela não falaria comigo no caminho pra casa, não. Eu achei que ela estivesse com medo -
seria o natural. Eu pensei que ela estivesse com raiva de mim por tê-la sujeitado a tal, por ter
colocado a vida dela em perigo. De novo. Eu nunca imaginei que ela estava realmente pensando,
no que ela estava resolvida a fazer. Não até que a minha família nos encontrou no aeroporto e ela
correu pros braços de Rosalie. Os braços de Rosalie! E então, eu ouvi o que Rosalie estava
pensando. Eu não entendi até que ouvi. Até você percebeu depois de um segundo... - Ele desviou
o olhar, rosnando.
- Voltando um instante. Ela não vai deixar você. - O sarcasmo estava ácido na minha língua.
- Você já parou pra pensar que ela é tão forte quanto qualquer outra garota de 50 quilos? Quão
estúpidos são vocês vampiros? Segurem-na e nocauteiem-na com remédios.
- Eu quis fazer isso - ele suspirou. - Carlisle teria feito...
O que, eles eram tão nobres assim?
- Não. Não nobres. A guarda costas dela complicou as coisas.
Oh. A história dele não fez muito sentido antes, mas agora sim. Então era isso que a loira
estava fazendo. O que ela queria? A rainha da beleza queria tanto que Bella morresse?
- Talvez - ele disse. - Rosalie não vê as coisas bem desse jeito.
- Então, tire a loira do caminho primeiro. Sua espécie pode se regenerar não? Faça dela um
quebra-cabeças e cuide da Bella.
- Emmett e Esme estão tomando conta dela. Eles nunca nos deixariam... e Carlisle não me
ajudaria com Esme contra isso... - Ele aprou, sua voz desaparecendo.
- Você devia ter deixado a Bella comigo.
- Sim.
Era um pouco tarde pra isso. Talvez ele devesse ter pensado nisso antes que eles fizessem o
monstrinho sugador de vida.
Ele olhou pra mim de dentro do seu inferno particular, e eu podia ver que ele concordava
comigo.
- Nós não sabíamos - ele disse, palavras calmas como um suspiro. - Eu nunca pensei nisso.
Nunca houve algo como Bella e eu antes. Como nós poderíamos saber que uma humana poderia
conceber uma criança com um de nós –
- Quando as mulheres deviam ser rasgadas ao meio no processo?
- Sim - ele concordou num suspiro tenso. - Eles não eram daqui, os sádicos, incubus e
succubus. Eles existem. Mas a sedução é meramente um prelúdio pra festa. Ninguém sobrevive. -
Ele balançou a cabeça como se a idéia o revoltasse. Como se ele fosse muito diferente. - Mesmo
você, Jacob, Black, pode me odiar tanto quanto eu me odeio.
Errado, eu pensei, nervoso demais pra falar.
- Me matar agora não vai salvá-la - ele disse devagar.
- Então, o que a salva?
- Jacob, você tem que fazer uma coisa pra mim.
À merda, que eu faço, parasita!
Ele se manteve olhando pra mim com aqueles olhos cansados e transtornados.
- Por ela?
Eu fechei meus dentes com força. - Eu fiz o que eu pude pra mantê-la longe de você. Tudo o
que eu pude. É tarde demais.
- Você a conhece, Jacob. Você está ligado a ela de um jeito que eu não posso sequer
entender. Ela não vai me ouvir, porque ela acha que eu a estou subestimando. Ela acha que é
forte o suficiente pra isso... - Ele respirou e engoliu seco. - Ele pode escutar você.
- Por que ela escutaria?
Ele se balançou, seus olhos queimando mais brilhantes que antes, selvagens. Eu imaginei se
ele estava mesmo ficando louco. Poderiam vampiros perder a cabeça?
- Talvez - ele respondeu ao meu pensamento. - Eu não sei. Parece que sim. - Ele balançou a
cabeça. - Eu tenho que tentar esconder isso na frente dela, porque o estresse faz com que ela
fique mais fraca. Ela não pode ficar mais fraca. Eu tenho que me compor; Eu não posso fazer isso
ser mais difícil. Mas não importa agora. Ela tem que te escutar!
- Eu não posso dizer nada que você já não tenha dito. O que você quer que eu faça? Diga a
ela que ela é estúpida? Ela provavelmente já sabe disso. Diga que ela vai morrer? Aposto que ela
já sabe, também.
- Você pode oferecê-la o que ela quer.
Não estava fazendo sentido. Parte da loucura?
- Eu não me importo com mais nada, a não ser mantê-la viva - ele disse, de repente focado
no assunto. - Se são crianças o que ela quer, ela pode ter. Ela pode ter meia dúzia deles. Tudo o
que ela quiser. - Ele parou por um instante. - Ela pode ter filhotes, se é o que é preciso.
Ele encontrou o meu olhar por um momento e o rosto dele estava preso por um fio de
controle. Eu desfranzi minha testa enquanto processava as palavras dele, e senti a minha boca
abrir em choque.
- Mas não desse jeito - ele gritou antes que eu pudesse me recuperar. - Não essa coisa que
está sugando a vida dela enquanto eu fico aqui, de mãos atadas! Assistindo-a adoecer e
enfraquecer. Vendo isso machucando-a. - Ele respirou fundo rapidamente, como se alguém o
tivesse socado no estômago. - Você tem que fazê-la ver, Jacob. Ela não vai mais me ouvir. Rosalie
está sempre ali, alimentando essa loucura - encorajando-a. Protegendo-a. Não, protegendo aquilo.
A vida da Bella não significa muita coisa pra ela.
O barulho da minha garganta soava como se eu estivesse sufocando.
O que é que ele estava dizendo? Que a Bella deveria o que? Ter um bebê? Comigo? O que? Ele
estava desistindo dela? Ou ele pensou que ela não se importaria em ser dividida?
- Qualquer coisa. Qualquer coisa que a mantenha viva.
- Essa é a coisa mais louca que você já disse - eu resmunguei.
- Ela ama você.
- Não o bastante.
- Ela está prestes a morrer pra ter um filho. Talvez ela aceite algo menos extremo.
- Você não a conhece não?
- Eu sei, eu sei. Vai ter que ser bem convincente. É por isso que eu preciso de você. Você
sabe como ela pensa. Faça-a ver.
Eu não conseguia pensar no que ele estava sugerindo. Era demais. Impossível. Errado.
Doentio. Pegar Bella pra um fim de semana e depois devolvê-la como um filme na locadora?
Terrível.
Tão tentador.
Eu não queria considerar, não queria nem mesmo imaginar, mas as imagens vinham. Eu
fantasiei Bella, várias vezes, de volta onde ainda havia uma possibilidade de nós, e mesmo depois
de ter desfeito essas fantasias, elas permaneciam feridas abertas, porque não havia possibilidade,
no mais. Eu não tinha sido capaz de evitar. Eu não podia me impedir agora. Bella nos meus
braços, Bella suspirando o meu nome... Ainda pior, essa nova imagem que eu não tinha tido
antes, uma que não tinha sequer existido pra mim. Até agora. Uma imagem que eu sabia que eu
não teria sofrido por anos se ele não tivesse enfiado na minha cabeça. Mas estava lá, tecendo
teias no meu cérebro como ervas daninhas - venenosas e imortais. Bella, saudável e brilhante,
bem diferente de agora, mas algo era o mesmo: o corpo dela, não deformado, modificado de
modo mais natural. Protegendo meu filho.
Eu tentei escapar da rede venenosa na minha cabeça. - Fazer a Bella ver? Em qual universo
você vive?
- Ao menos tente.
Balancei minha cabeça rapidamente. Ele esperou, ignorando uma resposta negativa porque
ele podia ouvir o conflito na minha cabeça.
- De onde veio toda essa besteira? Você está fazendo isso pra que?
- Eu não tenho pensando em mais nada, a não ser maneiras de salvá-la desde que eu
percebi o que ela estava planejando. Pelo que ela pretendia morrer. Mas eu não sabia como falar
com você. Eu sei que você não atenderia se eu ligasse. Eu teria que achar um jeito se você não
tivesse vindo aqui hoje. Mas é difícil deixá-la, mesmo que por alguns minutos. A condição dela...
muda muito rápido. Essa coisa... está crescendo. Depressa. Eu não posso ficar longe dela agora.
- O que é aquilo?
- Nenhum de nós tem idéia. Mas é mais forte que ela. Já.
Eu pude de repente ver então - ver o monstrinho na minha cabeça, destruindo-a de dentro
pra fora.
- Me ajude a acabar com isso - ele sussurrou. - Me ajude a impedir que isso aconteça.
- Como? Oferecendo os meus serviços? - Ele não pareceu se aborrecer com o que eu disse,
mas eu sim. - Você é realmente doente. Ela nunca vai ouvir isso.
- Tente. Não há nada a perder agora. Vai doer fazer isso?
- Doeria em mim. Eu não tive doses de rejeição suficiente da Bella não?
- Um pouquinho de dor pra salvá-la? É um custo muito alto?
- Mas não vai funcionar.
- Talvez não. Talvez isso a deixe confusa. Talvez ela repense sua decisão. Um momento de
dúvida, é tudo o que eu preciso.
- E então você volta atrás na oferta? - estava brincando, Bella?
- Se ela quer um filho, é isso que ela vai ter. Eu não vou voltar atrás.
- Eu não podia acreditar nem mesmo que eu estava pensando sobre isso. Bella me socaria -
não que eu me importasse muito com isso, mas ela provavelmente quebraria a mão de novo. Eu
não devia ter deixado ele falar comigo, confundindo a minha cabeça. Eu devia era matá-lo agora.
- Não agora - ele suspirou. - Não ainda. Certo ou errado, isso vai matá-lo, e você sabe disso.
Não é necessário ser apressado. Se ela não te escutar, você terá sua chance. No momento em que
o coração da Bella parar de bater, eu vou implorar pra que você me mate.
- Você não vai precisar implorar muito.
A insinuação de um sorriso pareceu brotar-lhe no canto dos lábios. - Eu estou contando com
isso.
- Então, temos um trato.
Ele concordou e me estendeu sua mão fria e dura.
Engolindo minha repugnância, eu estendi a minha mão e alcancei a dele. Meus dedos
apertaram a rocha, e eu balancei uma vez.
- Temos um trato - ele concordou.
(heloisa santos)
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