16 – MUITOS ALERTAS
Eu saí cedo, muito antes do sol nascer. Eu apenas cochilei um pouco encostado ao lado do
sofá. Edward me acordou quando o rosto de Bella estava corado, e ele ficou no meu lugar pra
esfriar a temperatura dela um pouco. Eu me espreguicei e decidi que estava descansado o
suficiente pra trabalhar.
- Obrigado - Edward disse baixo, vendo meus planos. - Se o caminho estiver livre, eles irão
hoje.
- Eu te aviso.
Foi bom voltar à minha forma animal. Eu estava dolorido de ficar sentado, parado por tanto
tempo. Eu dei passadas largas, trabalhando meus músculos das costas.
Bom dia, Jacob, Leah me cumprimentou.
Que bom que você está acordada. Quanto tempo Seth dormiu?
Não dormi ainda, Seth pensou, sonolento. Quase lá. O que você precisa?
Você acha que consegue mais uma hora?
Claro. Sem problemas. Seth imediatamente ficou de pé, balançando seu pêlo.
Vamos fazer uma busca, eu disse à Leah. Seth, faça o perímerto.
Indo. Seth começou a correr com facilidade.
Outra ordem dos vampiros, Leah resmungou.
Algum problema quanto a isso?
Claro que não. Eu só amo mimar aqueles adoráveis sanguessugas.
Ótimo. Vamos ver quão rápido podemos correr.
Okey, eu estou definitivamente pronta pra isso!
Leah estava na borda mais oeste do perímetro. Antes de cruzar com os Cullen, ela voltou ao
círculo enquanto voltava pra encontrar comigo. Eu corri diretamente pra leste, sabendo que
mesmo com a vantagem de ter saído primeiro, ela passaria por mim logo se eu diminuísse a
velocidade por sequer um segundo.
Nariz no chão, Leah. Isso não é uma corrida, é uma missão de reconhecimento.
Eu posso fazer os dois e ainda chutar seu traseiro.
Eu deixei passar. Eu sei.
Ela riu.
Pegamos um caminho sinuoso a leste das montanhas. Era uma rota conhecida. Corremos
praquelas montanhas quando os vampiros foram embora um ano atrás, fazendo daquela área uma
rota de patrulha pra melhor proteger as pessoas aqui. Então voltamos com os limites quando os
Cullen voltaram. Era a área deles, segundo o acordo.
Mas aquilo provavelmente não significava nada pra Sam agora. O acordo não importava
mais. A questão hoje era até onde ele estava disposto a estender sua força. Ele impediria os
Cullen de caçar em sua própria terra ou não? Jared disse a verdade ou se aproveitou da vantagem
do silêncio entre nós?
Entramos cada vez mais pras montanhas, sem encontrar qualquer traço do bando. Algumas
trilhas de vampiros estavam por todo lugar, mas os cheiros eram familiares agora. Eu os senti o
dia todo.
Eu encontrei um forte e recente cheiro em uma trilha em particular - todos eles indo e vindo,
exceto Edward. Algum tipo de reunião deve ter sido esquecida quando Edward trouxe sua esposa
grávida pra casa. Eu rangi os dentes. O que quer que fosse, não era da minha conta.
Leah não foi pra muito longe de mim, embora ela pudesse agora. Eu estava prestando mais
atenção em cada novo cheiro do que numa competição de velocidade. Ela ficou do meu lado
direito, correndo comigo ao invés de correr contra mim.
Nós estamos ficando bem longe, ela comentou.
É. Se Sam estava pensando em invadir, ele já devia ter cruzado os limites a essa altura.
Faz mais sentido agora pra ele se abrigar em La Push, Leah pensou. Ele sabe que estamos
dando aos sugadores de sangue mais três pares de olhos e pernas. Ele não vai ser capaz de
supreendê-los.
Era apenas uma preucação, na verdade.
Não queria que nossos preciosos parasitas fossem surpreendidos.
Não, eu concordei, ignorando o sarcasmo.
Você mudou muito, Jacob. Falo sobre um dos oito.
Você não é exatamente a mesma Leah que eu sempre conheci e amei também.
Verdade. Eu sou menos chata que o Paul?
Incrivelmente... sim.
Ah, eu consegui.
Parabéns.
Nós corremos em silêncio de novo. Provavelmente já era hora de voltar, mas nenhum de nós
queria. Era bom correr desse jeito. Ficamos olhando pro mesmo círculo de uma trilha por muito
tempo. Foi bom esticar os músculos e sentir o terreno. Nós não estávamos com muita pressa,
então pensei que pudéssemos caçar no caminho de volta. Leah estava com muita fome.
Yum, yum, ela pensou, azeda.
Está tudo na sua cabeça, eu disse a ela. É desse jeito que os lobos comem. É natural. Tem
um gosto bom. Se você não pensar nisso com olhos humanos –
Esquece a conversinha, Jacob. Eu vou caçar. Não tenho que gostar disso.
Claro, claro, eu concordei. Não era da minha conta se ela queria fazer as coisas serem mais
difíceis pra ela mesma.
Ela não falou mais nada por alguns minutos; eu comecei a pensar em voltar.
Obrigada, Leah de repente disse pra mim num tom bem diferente.
Por?
Por me deixar em paz. Por me deixar ficar. Vou foi muito mais legal do que eu poderia
esperar, Jacob.
Er, sem problemas. Na verdade, eu gostei disso. Eu não me importo de ter você aqui como
eu pensei que me importaria.
Ela rosnou, mas foi um som engraçado. Que grande elogio.
Não deixe isso subir à sua cabeça.
Okey - se você não deixar isso subir à sua também. Ela parou por um segundo. Você é um
bom Alpha. Não do mesmo jeito do Sam, mas do seu jeito. Vale a pena te seguir, Jacob.
Eu não consegui pensar em nada, de tão surpreso. Levou um segundo pra voltar a pensar.
Er, obrigado. Não estou totalmente seguro que vou conseguir fazer isso não subir à minha
cabeça. De onde veio isso?
Ela não respondeu imediatamente, e eu segui os pensamentos dela. Ela estava pensando no
futuro - sobre o que eu disse à Jared outro dia. Sobre como aquilo acabaria logo, e então eu
estaria de volta à floresta. Sobre eu ter prometido que ela e Seth estariam de volta ao bando
quando os Cullen tivessem partido...
Eu quero ficar com você, ela disse.
O choque percorreu as minhas pernas, travando minhas articulações. Ela saiu correndo na
minha frente e depois parou. Devagar, ela caminhou até onde eu estava paralisado.
Eu não vou incomodar, eu prometo. Eu não vou te seguir o tempo todo. Você pode ir aonde
quer que você queira, e eu irei pra onde eu quiser. Você só tem que estar comigo enquanto
formos lobos. Ela ficou zanzando de um lado pro outro na minha frente, chicoteando o seu longo
rabo cinza nervosamente. E, como eu estava pensando em ficar de fora o quanto eu puder...
talvez isso não seja muito frequentemente...
Eu não sabia o que dizer.
Eu estou mais feliz agora, sendo parte do seu bando, mais do que fui em anos.
Eu quero ficar também, Seth pensou rapidamente. Eu não percebi que ele estivesse tão
atento a nós enquanto percorria o perímetro.
Eu gosto desse bando.
Hei, vocês! Seth, isso não vai ser um bando por muito tempo. Eu tentei colocar meus
pensamentos em ordem pra que eles se convencessem. Nós temos um propósito agora, mas
quando... depois que tiver acabado, eu vou ser só um lobo. Seth, você precisa de um objetivo.
Você é um garoto. Você é o tipo de pessoa que sempre tem um desafio. E não há como você
deixar La Push agora. Você vai se formar no colégio e fazer alguma coisa da sua vida. Você vai
cuidar de Sue. Minhas escolhas não vão atrapalhar o seu futuro.
Mas –
Jacob está certo, Leah disse depois.
Você está concordando comigo?
Claro. Mas nada disso se aplica a mim. Eu estou saindo de casa, de qualquer maneira. Vou
conseguir um emprego em algum lugar longe de La Push. Talvez fazer alguns cursos na faculdade.
Entrar no yoga e meditação pra controlar o meu temperamento... E continuar sendo uma parte
desse bando pra minha própria saúde mental. Jacob - você consegue ver como isso tudo faz
sentido, não é? Eu não vou te incomodar, você não vai me incomodar, todo mundo fica feliz.
Eu me voltei em direção ao oeste.
Isso é um pouco demais pra responder, Leah. Deixe-me pensar sobre isso, okey?
Claro. Fique à vontade.
Não demorou muito pra que estivéssemos de volta. Eu não estava correndo. Eu estava
tentando me concentrar o suficiente pra não bater em uma árvore. Seth estava resmungando um
pouco no fundo da minha cabeça, mas eu era capaz de ignorá-lo. Ele sabia que eu estava certo.
Ele não ia abandonar a mãe. Ele voltaria pra La Push e protegeria a tribo como deveria.
Mas eu não conseguia ver Leah fazendo aquilo. E aquilo era bem assustador.
Um bando de dois? Não importava a distância física. Eu não conseguia imaginar a... a
intimidade daquela situação. Eu imaginei se ela realmente pensou sobre aquilo, ou se era estava
só desesperada pra ser livre.
Leah não disse nada sobre o que eu pensei. Era como se ela estivesse tentando provar como
seria fácil se fôssemos só nós dois.
Nós corremos atrás do barulho de um cervo assim que o sol começou a nascer, fazendo as
nuvens brilharem um pouco nas nossas costas. Leah suspirou internamente mas não hesitou. O
ataque dela foi limpo e eficiente - gracioso até. Ele abateu o maior, o chefe, antes que o assustado
animal percebesse o perigo.
Pra não dizer que eu não fiz nada, eu ataquei o segundo maior, segurando seu pescoço com
minhas patas rapidamente, pra que ela não sofresse mais que o necessário. Eu podia sentir o
desgosto de Leah lutando contra sua fome, e tentei fazer isso mais fácil pra ela, deixando o lobo
em mim dominar minha mente. Eu vivi como lobo o suficiente pra saber como ser o animal
completamente, pra ver como ele e pensar como ele. Eu deixei os instintos tomarem conta,
deixando-a sentir também. Ela hesitou por um segundo, mas então, numa tentativa, ela pareceu
deixar sua mente e tentar sentir o que eu sentia. Foi bem estranho - nossas mentes estavam mais
conectadas do que jamais estiveram, porque nós estávamos tentando pensar juntos. Estranho,
mas isso a ajudou. Os dentes dela cortaram o pêlo e a pele de sua presa, tirando uma grande tira
de carne fresca. Ao invés de estremecer como os seus pensamentos humanos queriam, ela deixou
o lobo dentro dela agir instintivamente. Foi uma coisa meio confusa, uma coisa sem pensar. Isso a
deixou comer em paz.
Foi fácil pra mim fazer o mesmo. Eu estava feliz que eu não tivesse esquecido aquilo. Seria a
minha vida de novo, logo.
Leah seria uma parte daquela vida? Uma semana atrás, eu acharia essa idéia abominável. Eu
não seria capaz de aceitar. Mas eu a conhecia melhor agora. E aliviada da dor constante, ela não
era mais a mesma loba. Não era a mesma garota.
Obrigada, ela me disse depois, enquanto limpava seu focinho e suas patas na grama
molhada. Eu não me importei; começou a chuviscar e tínhamos que atravessar um rio no nosso
aminho de volta. Eu ficaria limpo o bastante. Não foi tão ruim, pensando do seu jeito.
Por nada.
Seth estava se arrastando quando alcançamos o perímetro. Eu disse a ele pra dormir um
pouco; Leah e eu tomaríamos conta da ronda. Seth ficou inconsciente alguns minutos depois.
Você voltou atrás com os sugadores de sangue? Leah perguntou.
Talvez.
É difícil pra você ficar aqui, mas é difícil ficar longe também. Sei como é.
Sabe, Leah, você devia pensar um pouco sobre o futuro, sobre o que você realmente quer
fazer. Minha cabeça não vai ser o lugar mais feliz da terra. E você vai sofrer comigo.
Ela pensou em como me responder. Uau, isso vai soar mal. Mas honestamente, vai ser mais
fácil lidar com a sua dor do que com a minha.
Justo.
Eu sei que vai ser ruim pra você, Jacob. Eu entendo isso - talvez melhor que você pensa. Eu
não gosto dela, mas... ela é o seu Sam. Ela é tudo o que você quer e tudo o que você não pode
ter.
Eu não consegui responder.
Eu sei que é pior pra você. Ao menos Sam está feliz. Ao menos ele está bem e vivo. Eu o
amo tanto que é isso o que eu quero. Eu quero que ele tenha o que é melhor pra ele. Ela
suspirou. Eu só não quero ter que ficar pra assistir.
Nós precisamos falar sobre isso?
Eu acho que sim. Porque eu quero saber se eu não vou fazer isso ser pior pra você. Droga,
talvez eu até ajude. Eu não nasci um poço de compaixão. Eu costumava ser legal, sabe.
Minha memória não vai assim tão longe.
Nós dois rimos.
Eu sinto muito, Jacob. Sinto muito que você esteja sofrendo. Sinto muito que eu esteja
piorando e não ajudando.
Obrigado, Leah.
Ela pensou sobre as coisas que eram piores, as imagens negras na minha mente, enquanto
eu tentava tirá-la sem sucesso. Ela era capaz de vê-las com alguma distância, perspectiva, e eu
tenho que admitir que isso ajudava. Eu poderia imaginar que era capaz de ver daquele jeito,
também, em alguns anos.
Ela via o lado engraçado das irritações diárias de ficar com os vampiros. Ela gostou da minha
briguinha com Rosalie, rindo por dentro e até pensou em algumas piadinhas sobre loiras que eu
poderia usar. Mas então seus pensamentos ficaram sérios, fixando-se em Rosalie de um jeito que
eu me confundiu.
Sabe o que é estranho? Ela perguntou.
Bem, quase tudo é estranho agora. Mas o que você quer dizer?
Aquela vampira loira que você odeia tanto - eu a entendo perfeitamente.
Por um segundo eu pensei que ela estivesse fazendo uma piada de muito mau gosto. E
então, quando eu percebi que era sério, a fúria me invadiu e foi difícil controlar. Era bom mesmo
que nós tivéssemos nos espalhado pra vigiar. Se ela estivesse ao alcance dos meus dentes...
Fica calmo. Me deixa explicar!
Não quero escutar. Vou sair daqui.
Espera! Espera! ela implorou enquanto eu me acalmava pra me transformar de volta. Por
favor, Jake!
Leah, esse realmente não é o melhor jeito de me convencer que eu queria passar mais
tempo com você no futuro.
Aff, que reação! Você nem sabe do que eu estou falando!
Então do que você está falando?
E então ela era a mesma Leah amarga de antes. Estou falando sobre ser a última da minha
espécie, Jacob.
O teor de suas palavras me fez vacilar. Eu não esperava toda aquela raiva.
Não entendo.
Você entenderia, se você fosse como eles. Se minha "feminilidade" - ela pensou isso com um
tom muito sarcástico - não te mandasse correr pra cobrir como qualquer outro macho estúpido,
então você seria capaz de entender o que isso quer dizer.
Oh.
É, nenhum de nós gosta de pensar sobre essas coisas com ela. Quem gostaria? Claro que eu
lembro do medo de Leah no primeiro mês depois que ela se juntou ao bando - e eu me lembrei de
fugir disso, assim como qualquer outro. Porque ela não podia ficar grávida - a não ser que alguma
coisa muito estranha estivesse acontecendo, ou um milagre. Ela não teve ninguém desde Sam. E
agora, quando as semanas voaram e nada se transformou em nada mais que nada, ela percebeu
que o corpo dela não estava mais seguindo os padrões normais. O medo - o que ela era agora? O
corpo dela teria mudado porque ela virou um lobisomem? Ou ela virou um lobisomem porque o
corpo dela era errado? A única lobisomem fêmea da história. Seria por que ela não era tão fêmea
quanto deveria ser?
Nenhum de nós queria ter que lidar com aquilo. Obviamente, não era como se pudéssemos
compreender.
Você sabe porque Sam acha que nós temos a impressão, ela pensou, mais calma.
Claro. Pra manter a linhagem.
Certo. Pra fazer mais um bando de pequenos lobisomens. Sobrevivência das espécies,
perpetuar genes. Nós temos a impressão com a pessoa que é melhor capacitada a passar o gene
de lobo.
Eu esperei que ela me dissesse onde queria chegar.
Se eu fosse boa pra isso, Sam teria tido a impressão comigo.
A dor dela era tão grande que eu perdi o ritmo dos passos.
Mas eu não sou. Tem algo de errado comigo. Eu não tenho a capacidade de passar o gene,
aparentemente, apesar dos meus laços de sangue. Então eu virei a esquisita - a garota lobisomem
- boa pra mais nada. Eu sou a última da minha linhagem e nós dois sabemos disso.
Nós não sabemos, eu argumentei. Essa é a teoria de Sam. A impressão acontece, mas nós
não sabemos porque. Billy acha que tem algo a mais.
Eu sei, eu sei. Ele pensa que a gente tem a impressão pra fazer lobos mais fortes. Porque
você e Sam são monstruosos - maiores que seus pais. Mas também, eu não sou mais uma
candidata. Eu estou... Estou na menopausa. Eu tenho vinte anos de idade e estou na menopausa.
Ugh. Eu não queria mesmo ter aquela conversa. Você não sabe, Leah. Talvez seja por causa
de não envelhecer. Quando você sair da sua forma de lobo e começar a envelhecer de novo, eu
tenho certeza que as coisas vão... er... voltar ao normal.
Eu poderia pensar nisso - a não ser que alguém tenha uma impressão comigo, não haverá
mais do meu impressionante pedigree. Sabe, ela prosseguiu pensativa, se você não estivesse por
perto, Seth provavelmente teria a melhor condição de ser Alpha - por causa do sangue, pelo
menos. Claro, ninguém jamais me consideraria...
Você realmente quer ter uma impressão, ou sofrer uma impressão, ou qualquer coisa?
Perguntei. O que há de errado em se apaixonar como uma pessoa normal, Leah? A impressão é
apenas um outro jeito de ter suas escolhas tiradas de você.
Sam, Jared, Paul, Quil... eles não parecem se importar.
Nenhum deles tem pensamento próprio.
Você não quer ter uma impressão?
Droga, não!
Mas isso é porque você está apaixonado por ela. Isso vai passar, sabe, se você tiver uma
impressão. Você não vai mais se magoar por causa dela.
Você quer esquecer o jeito que você se sente por Sam?
Ela ponderou por um momento. Eu acho que sim.
Eu suspirei. Ela estava mais sã que eu.
Mas voltando ao assunto, Jacob. Eu entendo porque a vampira loira é tão fria - no sentido
figurado. Ela está focada. Ela está com os olhos no prêmio, certo? Pode você sempre quer mais
aquilo que você jamais poderia ter.
Você agiria como a Rosalie? Você mataria alguém - porque é o que ela está fazendo - você
faria isso pra ter um bebê? Desde quando você é uma procriadora?
Eu só quero as opções que eu não tenho, Jacob. Talvez, se não houvesse nada de errado
comigo, eu nunca pensaria nisso.
Você mataria por isso? Eu perguntei, não deixando-a fugir da pergunta.
Não é o que ela está fazendo. Eu acho que é mais como se ela estivesse vivendo como uma
beata. E... se a Bella me pedisse pra ajudá-la com isso... Ela fez uma pausa, considerando. Mesmo
embora eu não pensasse muito nela, eu provavelmente faria o mesmo que a sugadora de sangue.
Um estrondoso rosnado surgiu em minha garganta.
Porque se fosse o contrário, eu ia querer que a Bella fizesse isso por mim. E Rosalie pensa
assim. Nós faríamos a mesma coisa.
Ugh! Você é tão ruim quanto eles!
É a parte engraçada em saber que você não pode ter uma coisa. Faz você se desesperar.
E... é o meu limite. Aqui mesmo. Essa conversa acabou.
Tá bem.
Não era o bastante que ela concordasse em parar. Eu queria uma coisa mais definitiva que
aquilo.
Eu estava a aproximadamente dois quilômetros de onde eu tinha deixado minhas roupas,
então eu me transformei em humano de novo e caminhei. Eu não pensei sobre a conversa. Não
porque não houvesse mais nada pra se pensar sobre isso, mas porque eu não podia pensar
naquilo. Eu não veria daquela maneira - mas era difícil não fazê-lo quando Leah colocou seus
pensamentos e emoções na minha cabeça.
É, eu não estava correndo com ela quando aquilo acabou. Ela poderia ser infeliz em La Push.
Um pequeno comando Alpha antes que eu deixasse não mataria ninguém. Era realmente cedo
quando eu cheguei na casa. Bella provavelmente ainda estaria dormindo. Eu colocaria a minha
cabeça pra dentro, veria o que estava acontecendo, daria a eles o sinal verde pra ir caçar, e então
encontraria um monte de grama macia o suficiente pra dormir. Eu não me transformaria de novo
enquanto Leah estivesse acordada.
Mas havia um monte de resmungos dentro da casa, então talvez Bella não estivesse
dormindo. E então eu escutei o som das máquinas escada acima - o raio-x? Ótimo. Parecia que o
dia número quatro da contagem regressiva estava começando com um estrondo.
Alice abriu a porta pra mim antes que eu pudesse entrar.
Ela concordou. - Hei, lobo.
- Hei, pequenininha. O que está acontecendo lá em cima? - A grande sala estava vazia - os
murmúrios vinham do segundo andar.
Ela encolheu seus ombros pontudos. - Talvez tenha sido outra fratura. - Ela tentou parecer
casual, mas eu podia ver as chamas no fundo de seus olhos. Edward e eu não éramos os únicos
que estavam queimando por causa disso. Alice amava a Bella também.
- Outra costela? - Eu perguntei.
- Não. Bacia dessa vez. - Engraçado como aquilo continuava me machucando, como se cada
novidade fosse uma surpresa. Quando eu ia parar de ser surpreendido? Cada novo desastre
parecia meio que óbvio depois que acontecia.
Alice estava olhando pras minhas mãos, vendo-as tremer.
Então nos ouvimos a voz de Rosalie lá em cima.
- Veja, eu te disse que não tinha ouvindo um estalido. Você precisa lavar as orelhas, Edward.
Não houve resposta.
Alice fez uma careta. - Edward vai acabar fazendo a Rosalie em pedacinhos, eu acho. Eu
estou surpresa que ela ainda não tenha percebido. Ou talvez ela ache que Emmett vai ser capaz
de pará-lo.
- Eu pego o Emmett - eu ofereci. - Você pode ajudar o Edward com a parte de picar.
Alice deu um sorriso amarelo.
A procissão desceu as escadas então - Edward carregava Bella dessa vez. Ela estava
carregando seu copo de sangue com as duas mãos, e o rosto dela estava branco. Eu podia ver
que, embora ele compensasse cada mísero movimento de seu corpo pra não movimentá-la, ela
estava sentindo dor.
- Jake - ela suspirou, e ela sorriu apesar da dor.
Eu olhei pra ela, sem dizer nada.
Edward colocou Bella cuidadosamente no sofá e sentou no chão perto dela. Eu imaginei
brevemente porque eles não a deixavam lá em cima, e então concluí que devia ser coisa da Bella.
Ela queria agir como se as coisas estivessem normais, evitar o clima de hospital. E ele a estava
fazendo a vontade dela. Naturalmente.
Carlisle desceu devagar, o último, seu rosto tenso de preocupação. Isso o fez parecer velho
o bastante pra ser médico.
- Carlisle - eu disse. - Nós fomos até metade do caminho pra Seattle. Não havia sinal do
bando. Vocês podem ir.
- Obrigado, Jacob. É uma boa hora. É o que precisamos. - Os olhos negros dele olharam o
copo que Bella segurava forte.
- Honestamente, eu acho que é seguro vocês irem em mais de três. Eu tenho certeza que
Sam está concentrado em La Push.
Carlisle balançou a cabeça, concordando. Eu fiquei surpreso quão fácil ele aceitou meu
conselho. - Se você acha. Alice, Esme, Jasper, e eu vamos. Então Alice pode ficar no lugar de
Emmett e Rosa-
- Sem chance - Rosalie disse. - Emmett pode ir com você agora.
- Você devia caçar - Carlisle disse com uma voz gentil.
O tom dele não fez o dela baixar. - Eu vou quando ele for - ela grunhiu, apontando a sua
cabeça pra Edward e jogando o cabelo pra trás.
Carlisle suspirou.
Jasper e Emmett desceram as escadas como um flash, e Alice se juntou a eles perto da
porta de vidro dos fundos no mesmo instante. Esme deslizou para o lado de Alice.
Carlisle pôs a mão no meu braço. O toque gelado não foi legal, mas eu não o desviei. Eu
fiquei parado, meio porque estava surpreso, e meio porque não queria ferir os sentimentos dele.
- Obrigado - ele disse de novo, e então saiu pela porta junto com os outros quatro. Meus
olhos os seguiram até que eles cruzassem o gramado e desaparecessem antes que eu pudesse
respirar de novo. Eu respirei de novo. As necessidades deles deviam ser mais urgentes do que eu
esperava.
Não houve barulho por um minuto. Eu podia sentir alguém olhando pra mim, e eu sabia
quem devia ser. Eu estava planejando sair e dormir um pouco, mas a chance de arruinar a manhã
de Rosalie me pareceu mais tentadora.
Então eu fui até a poltrona perto da que Rosalie estava sentada, me espreguiçando de modo
que minha cabeça estivesse inclinada na direção de Bella e meus pés perto do rosto de Rosalie.
- Ew. Alguém coloca o cachorro pra fora - ela resmungou, tapando o nariz.
- Você já ouviu essa, psicopata? Como o neurônios de uma loira morre?
Ela não disse nada.
- Não? - Eu perguntei. - Você conhece a piada ou não?
Ela olhou diretamente pra tv e me ignorou.
- Ela ouviu isso? - Eu perguntei pro Edward.
Não havia graça em seu tenso rosto - ele não tirou seus olhos de Bella. Mas disse, - Não.
- Incrível. Então você vai gostar dessa, sugadora de sangue - os neurônios de uma loira
morrem sozinhos.
Rosalie não olhou pra mim. - Eu matei umas mil vezes mais que você, sua besta nojenta.
Não esqueça disso.
- Um dia, Rainha da Beleza, você vai ficar cansada de só me ameaçar. Eu espero
ansiosamente por isso.
- Chega, Jacob - Bella disse.
Eu olhei pra baixo, e ela estava franzindo a testa pra mim. Parecia que o bom humor de
ontem tinha ido embora há tempos.
Bom, eu não queria chateá-la. - Você quer que eu saia? - Eu ofereci.
Antes que eu pudesse esperar - ou temer - que ela finalmente tivesse se cansado de mim,
ela piscou, e sua cara feia sumiu.. Ela pareceu completamente chocada que eu tivesse chegado a
essa conclusão. - Não! Claro que não!!
Eu suspirei, e ouvi Edward suspirar baixinho também. Eu sabia que ele queria que ela tivesse
me esquecido, também. Um azar que ele nunca pedisse a ela que fizesse algo que a fosse deixar
infeliz.
- Você parece cansado - Bella falou.
- Morto - eu admiti.
- Eu gostaria de te matar - Rosalie resmungou, baixo demais pra Bella escutar. Eu só me
afundei na cadeira, ficando mais confortável. Meu pé descalço balançou perto de Rosalie, e ela
ficou dura. Depois de alguns minutos, Bella pediu a Rosalie que enchesse seu copo. Eu senti o
vento quando Rosalie voou pelas escadas pra pegar mais sangue. Foi bem silencioso. Melhor eu
dar um cochilada, pensei.
Então, Edward disse, - Você disse alguma coisa? - num tom confuso. Estranho. Porque
ninguém disse nada, e porque a audição de Edward era tão boa quanto a minha, e ele devia saber
disso.
Ele estava olhando pra Bella, e ela estava olhando de volta. Eles dois pareciam confusos.
- Eu? - ela disse, depois de um segundo. - Eu não disse nada.
Ele ficou de joelhos, ficando na frente dela, sua expressão repentinamente intensa de um
jeito bem diferente. Seus olhos negros olharam pra ela.
- No que você está pensando agora?
Ela olhou pra ele supressa. - Nada. O que está acontecendo?
- No que você estava pensando a um minuto atrás? - Ele perguntou.
- Só... na Ilha de Esme. E nas penas.
Eu não entendi nada, mas ela ficou corada, e eu entendi que era melhor não saber de nada
mesmo.
- Diga mais alguma coisa - ele sussurrou.
- Como o que? Edward, o que está acontecendo?
O rosto dele mudou de novo, e ele fez uma coisa que fez com que eu ficasse boquiaberto.
Eu ouvi alguém ofegar atrás de mim e soube que Rosalie estava de volta, perplexa quanto eu.
Edward, bem devagar, pôs ambas as mãos na barriga de Bella.
- O c- ele engoliu seco. - Isso... o bebê gosto do som da sua voz.
Havia um silêncio mortal. Eu não podia mover um músculo, nem mesmo piscar. Então –
- Deus do Céu, você pode escutá-lo! - Bella gritou. No segundo seguinte, ela arrepiou-se.
A mão de Edward moveu-se pro topo da barriga e gentilmente acariciou o lugar onde o bebê
havia chutado.
- Shh - ele resmungou. - Você o agitou...
Os olhos dela se arregalaram ficaram maravilhados. Ela passou a mão na barriga.
- Desculpe, bebê.
Edward estava ouvindo, os olhos fixados no volume da barriga.
- No que ele está pensando agora? - Ela perguntou ansiosa.
- Ele... ele ou ela, está... - Ele parou e olhou nos olhos dela. Os olhos dele com um terror
conhecido - ele apenas estava cuidadoso e ressentido. - Ele está feliz - Edward disse com uma voz
incrédula.
A respiração dela falhou, e era impossível não ver o brilho fanático em seus olhos. A
adoração e a devoção. Grandes e espessas lágrimas rolaram de seus olhos e silenciosamente
escorreram pelo seu rosto e seu sorriso.
Quando ele olhou pra ela, seu rosto não estava com medo ou com raiva ou queimando ou
qualquer uma das expressões que ele carregava desde seu retorno. Ele estava maravilhado com
ela.
- Claro que você está feliz, bebêzinho, claro que você está - ela cantarolou, acariciando a
barriga enquanto as lágrimas escorriam pelas suas bochechas. - Como você poderia não estar, a
salvo e quentinho e amado? Eu amo muito você, pequeno EJ, claro que você está feliz.
- De que você o chamou? - Edward perguntou, curioso.
Ela corou de novo. - Eu meio que dei um nome pra ele. Eu não achei que você quisesse...
bom, você sabe.
- EJ?
- O nome do seu pai era Edward também.
- Sim, era. O que -? - Ele parou e então disse - Hmm.
- O que?
- Ele gosta da minha voz também.
- Claro que gosta. - O tom dela estava quase maldoso agora. - Você tem a voz mais linda do
universo. Quem não amaria?
- Você tem um plano B? - Rosalie perguntou então, encostando atrás do sofá com o mesmo
pensamento maldoso de Bella. - E se ele for ela?
Bella enxugou as lágrimas sob seus olhos. - Eu estive pensando numas coisas. Brincando
com Renée e Esme. Eu estava pensando Ruh-nez-may.
- Ruhnezmay?
- R-e-n-e-s-m-e-e. Muito esquisito?
- Não, eu gosto - Rosalie assegurou. As cabeças elas estavam juntas, ouro e mogno. - É
lindo. E um de cada espécie, então fica legal.
- Eu ainda acho que é um Edward.
Edward estava olhando pro espaço, sua cabeça longe, quando ele ouviu.
- O que? - Bella perguntou. - O que ele está pensando agora?
Ele não respondeu de primeira, e então - chocando o resto de nós de novo, três ofegas
distintas - ele colocou sua orelha ternamente na barriga dele.
- Ele ama você - Edward sussurrou, parecendo ofuscado. - Ele definitivamente adora você.
Naquele momento, eu sabia que estava sozinho. Totalmente sozinho.
Eu quis me chutar quando eu percebi o quanto eu estive contando com aquele vampiro
repugnante. Que estúpido - como se eu pudesse confiar num sanguessuga! Claro que ele ia trair
no final.
Eu contei com ele do meu lado. Contei que ele sofreria mais do que eu. E, acima de tudo, eu
contei que ele odiasse aquela coisa que estava matando a Bella mais do que eu odiava.
Eu confiei nele.
Mas agora eles estavam juntos, os dois curvados sobre o amigável, invisível monstrinho com
seus olhos claros como uma família feliz.
E eu estava sozinho com ódio e meu sofrimento que eram tão ruins quanto ser torturado.
Como ser colocado lentamente numa cama de lâminas afiadas. Doendo tanto que você morreria
com um sorriso, só praquela dor ir embora.
O calor destravou meus músculos, e eu fiquei em pé.
Todos três olharam pra mim, e eu vi a minha dor pelo rosto de Edward quando ele invadiu a
minha mente de novo.
- Ahh - ele abafou.
Eu não sabia o que eu estava fazendo; eu fiquei ali, tremendo, pronto pra fugir na primeira
oportunidade que eu tivesse.
Movendo-se como uma cobra, Edward arremessou-se pra uma mesinha e tirou alguma coisa
da gaveta. Ele jogou aquilo pra mim, e eu peguei o objeto num reflexo.
- Vá, Jacob. Saia daqui. - Ele não disse isso de um jeito duro - ele disse aquilo como se fosse
um preservador da vida. Ele me ajudou encontrar a saída que eu estava procurando.
O objeto que ele me deu era um chaveiro com chaves de um carro.
Eu saí cedo, muito antes do sol nascer. Eu apenas cochilei um pouco encostado ao lado do
sofá. Edward me acordou quando o rosto de Bella estava corado, e ele ficou no meu lugar pra
esfriar a temperatura dela um pouco. Eu me espreguicei e decidi que estava descansado o
suficiente pra trabalhar.
- Obrigado - Edward disse baixo, vendo meus planos. - Se o caminho estiver livre, eles irão
hoje.
- Eu te aviso.
Foi bom voltar à minha forma animal. Eu estava dolorido de ficar sentado, parado por tanto
tempo. Eu dei passadas largas, trabalhando meus músculos das costas.
Bom dia, Jacob, Leah me cumprimentou.
Que bom que você está acordada. Quanto tempo Seth dormiu?
Não dormi ainda, Seth pensou, sonolento. Quase lá. O que você precisa?
Você acha que consegue mais uma hora?
Claro. Sem problemas. Seth imediatamente ficou de pé, balançando seu pêlo.
Vamos fazer uma busca, eu disse à Leah. Seth, faça o perímerto.
Indo. Seth começou a correr com facilidade.
Outra ordem dos vampiros, Leah resmungou.
Algum problema quanto a isso?
Claro que não. Eu só amo mimar aqueles adoráveis sanguessugas.
Ótimo. Vamos ver quão rápido podemos correr.
Okey, eu estou definitivamente pronta pra isso!
Leah estava na borda mais oeste do perímetro. Antes de cruzar com os Cullen, ela voltou ao
círculo enquanto voltava pra encontrar comigo. Eu corri diretamente pra leste, sabendo que
mesmo com a vantagem de ter saído primeiro, ela passaria por mim logo se eu diminuísse a
velocidade por sequer um segundo.
Nariz no chão, Leah. Isso não é uma corrida, é uma missão de reconhecimento.
Eu posso fazer os dois e ainda chutar seu traseiro.
Eu deixei passar. Eu sei.
Ela riu.
Pegamos um caminho sinuoso a leste das montanhas. Era uma rota conhecida. Corremos
praquelas montanhas quando os vampiros foram embora um ano atrás, fazendo daquela área uma
rota de patrulha pra melhor proteger as pessoas aqui. Então voltamos com os limites quando os
Cullen voltaram. Era a área deles, segundo o acordo.
Mas aquilo provavelmente não significava nada pra Sam agora. O acordo não importava
mais. A questão hoje era até onde ele estava disposto a estender sua força. Ele impediria os
Cullen de caçar em sua própria terra ou não? Jared disse a verdade ou se aproveitou da vantagem
do silêncio entre nós?
Entramos cada vez mais pras montanhas, sem encontrar qualquer traço do bando. Algumas
trilhas de vampiros estavam por todo lugar, mas os cheiros eram familiares agora. Eu os senti o
dia todo.
Eu encontrei um forte e recente cheiro em uma trilha em particular - todos eles indo e vindo,
exceto Edward. Algum tipo de reunião deve ter sido esquecida quando Edward trouxe sua esposa
grávida pra casa. Eu rangi os dentes. O que quer que fosse, não era da minha conta.
Leah não foi pra muito longe de mim, embora ela pudesse agora. Eu estava prestando mais
atenção em cada novo cheiro do que numa competição de velocidade. Ela ficou do meu lado
direito, correndo comigo ao invés de correr contra mim.
Nós estamos ficando bem longe, ela comentou.
É. Se Sam estava pensando em invadir, ele já devia ter cruzado os limites a essa altura.
Faz mais sentido agora pra ele se abrigar em La Push, Leah pensou. Ele sabe que estamos
dando aos sugadores de sangue mais três pares de olhos e pernas. Ele não vai ser capaz de
supreendê-los.
Era apenas uma preucação, na verdade.
Não queria que nossos preciosos parasitas fossem surpreendidos.
Não, eu concordei, ignorando o sarcasmo.
Você mudou muito, Jacob. Falo sobre um dos oito.
Você não é exatamente a mesma Leah que eu sempre conheci e amei também.
Verdade. Eu sou menos chata que o Paul?
Incrivelmente... sim.
Ah, eu consegui.
Parabéns.
Nós corremos em silêncio de novo. Provavelmente já era hora de voltar, mas nenhum de nós
queria. Era bom correr desse jeito. Ficamos olhando pro mesmo círculo de uma trilha por muito
tempo. Foi bom esticar os músculos e sentir o terreno. Nós não estávamos com muita pressa,
então pensei que pudéssemos caçar no caminho de volta. Leah estava com muita fome.
Yum, yum, ela pensou, azeda.
Está tudo na sua cabeça, eu disse a ela. É desse jeito que os lobos comem. É natural. Tem
um gosto bom. Se você não pensar nisso com olhos humanos –
Esquece a conversinha, Jacob. Eu vou caçar. Não tenho que gostar disso.
Claro, claro, eu concordei. Não era da minha conta se ela queria fazer as coisas serem mais
difíceis pra ela mesma.
Ela não falou mais nada por alguns minutos; eu comecei a pensar em voltar.
Obrigada, Leah de repente disse pra mim num tom bem diferente.
Por?
Por me deixar em paz. Por me deixar ficar. Vou foi muito mais legal do que eu poderia
esperar, Jacob.
Er, sem problemas. Na verdade, eu gostei disso. Eu não me importo de ter você aqui como
eu pensei que me importaria.
Ela rosnou, mas foi um som engraçado. Que grande elogio.
Não deixe isso subir à sua cabeça.
Okey - se você não deixar isso subir à sua também. Ela parou por um segundo. Você é um
bom Alpha. Não do mesmo jeito do Sam, mas do seu jeito. Vale a pena te seguir, Jacob.
Eu não consegui pensar em nada, de tão surpreso. Levou um segundo pra voltar a pensar.
Er, obrigado. Não estou totalmente seguro que vou conseguir fazer isso não subir à minha
cabeça. De onde veio isso?
Ela não respondeu imediatamente, e eu segui os pensamentos dela. Ela estava pensando no
futuro - sobre o que eu disse à Jared outro dia. Sobre como aquilo acabaria logo, e então eu
estaria de volta à floresta. Sobre eu ter prometido que ela e Seth estariam de volta ao bando
quando os Cullen tivessem partido...
Eu quero ficar com você, ela disse.
O choque percorreu as minhas pernas, travando minhas articulações. Ela saiu correndo na
minha frente e depois parou. Devagar, ela caminhou até onde eu estava paralisado.
Eu não vou incomodar, eu prometo. Eu não vou te seguir o tempo todo. Você pode ir aonde
quer que você queira, e eu irei pra onde eu quiser. Você só tem que estar comigo enquanto
formos lobos. Ela ficou zanzando de um lado pro outro na minha frente, chicoteando o seu longo
rabo cinza nervosamente. E, como eu estava pensando em ficar de fora o quanto eu puder...
talvez isso não seja muito frequentemente...
Eu não sabia o que dizer.
Eu estou mais feliz agora, sendo parte do seu bando, mais do que fui em anos.
Eu quero ficar também, Seth pensou rapidamente. Eu não percebi que ele estivesse tão
atento a nós enquanto percorria o perímetro.
Eu gosto desse bando.
Hei, vocês! Seth, isso não vai ser um bando por muito tempo. Eu tentei colocar meus
pensamentos em ordem pra que eles se convencessem. Nós temos um propósito agora, mas
quando... depois que tiver acabado, eu vou ser só um lobo. Seth, você precisa de um objetivo.
Você é um garoto. Você é o tipo de pessoa que sempre tem um desafio. E não há como você
deixar La Push agora. Você vai se formar no colégio e fazer alguma coisa da sua vida. Você vai
cuidar de Sue. Minhas escolhas não vão atrapalhar o seu futuro.
Mas –
Jacob está certo, Leah disse depois.
Você está concordando comigo?
Claro. Mas nada disso se aplica a mim. Eu estou saindo de casa, de qualquer maneira. Vou
conseguir um emprego em algum lugar longe de La Push. Talvez fazer alguns cursos na faculdade.
Entrar no yoga e meditação pra controlar o meu temperamento... E continuar sendo uma parte
desse bando pra minha própria saúde mental. Jacob - você consegue ver como isso tudo faz
sentido, não é? Eu não vou te incomodar, você não vai me incomodar, todo mundo fica feliz.
Eu me voltei em direção ao oeste.
Isso é um pouco demais pra responder, Leah. Deixe-me pensar sobre isso, okey?
Claro. Fique à vontade.
Não demorou muito pra que estivéssemos de volta. Eu não estava correndo. Eu estava
tentando me concentrar o suficiente pra não bater em uma árvore. Seth estava resmungando um
pouco no fundo da minha cabeça, mas eu era capaz de ignorá-lo. Ele sabia que eu estava certo.
Ele não ia abandonar a mãe. Ele voltaria pra La Push e protegeria a tribo como deveria.
Mas eu não conseguia ver Leah fazendo aquilo. E aquilo era bem assustador.
Um bando de dois? Não importava a distância física. Eu não conseguia imaginar a... a
intimidade daquela situação. Eu imaginei se ela realmente pensou sobre aquilo, ou se era estava
só desesperada pra ser livre.
Leah não disse nada sobre o que eu pensei. Era como se ela estivesse tentando provar como
seria fácil se fôssemos só nós dois.
Nós corremos atrás do barulho de um cervo assim que o sol começou a nascer, fazendo as
nuvens brilharem um pouco nas nossas costas. Leah suspirou internamente mas não hesitou. O
ataque dela foi limpo e eficiente - gracioso até. Ele abateu o maior, o chefe, antes que o assustado
animal percebesse o perigo.
Pra não dizer que eu não fiz nada, eu ataquei o segundo maior, segurando seu pescoço com
minhas patas rapidamente, pra que ela não sofresse mais que o necessário. Eu podia sentir o
desgosto de Leah lutando contra sua fome, e tentei fazer isso mais fácil pra ela, deixando o lobo
em mim dominar minha mente. Eu vivi como lobo o suficiente pra saber como ser o animal
completamente, pra ver como ele e pensar como ele. Eu deixei os instintos tomarem conta,
deixando-a sentir também. Ela hesitou por um segundo, mas então, numa tentativa, ela pareceu
deixar sua mente e tentar sentir o que eu sentia. Foi bem estranho - nossas mentes estavam mais
conectadas do que jamais estiveram, porque nós estávamos tentando pensar juntos. Estranho,
mas isso a ajudou. Os dentes dela cortaram o pêlo e a pele de sua presa, tirando uma grande tira
de carne fresca. Ao invés de estremecer como os seus pensamentos humanos queriam, ela deixou
o lobo dentro dela agir instintivamente. Foi uma coisa meio confusa, uma coisa sem pensar. Isso a
deixou comer em paz.
Foi fácil pra mim fazer o mesmo. Eu estava feliz que eu não tivesse esquecido aquilo. Seria a
minha vida de novo, logo.
Leah seria uma parte daquela vida? Uma semana atrás, eu acharia essa idéia abominável. Eu
não seria capaz de aceitar. Mas eu a conhecia melhor agora. E aliviada da dor constante, ela não
era mais a mesma loba. Não era a mesma garota.
Obrigada, ela me disse depois, enquanto limpava seu focinho e suas patas na grama
molhada. Eu não me importei; começou a chuviscar e tínhamos que atravessar um rio no nosso
aminho de volta. Eu ficaria limpo o bastante. Não foi tão ruim, pensando do seu jeito.
Por nada.
Seth estava se arrastando quando alcançamos o perímetro. Eu disse a ele pra dormir um
pouco; Leah e eu tomaríamos conta da ronda. Seth ficou inconsciente alguns minutos depois.
Você voltou atrás com os sugadores de sangue? Leah perguntou.
Talvez.
É difícil pra você ficar aqui, mas é difícil ficar longe também. Sei como é.
Sabe, Leah, você devia pensar um pouco sobre o futuro, sobre o que você realmente quer
fazer. Minha cabeça não vai ser o lugar mais feliz da terra. E você vai sofrer comigo.
Ela pensou em como me responder. Uau, isso vai soar mal. Mas honestamente, vai ser mais
fácil lidar com a sua dor do que com a minha.
Justo.
Eu sei que vai ser ruim pra você, Jacob. Eu entendo isso - talvez melhor que você pensa. Eu
não gosto dela, mas... ela é o seu Sam. Ela é tudo o que você quer e tudo o que você não pode
ter.
Eu não consegui responder.
Eu sei que é pior pra você. Ao menos Sam está feliz. Ao menos ele está bem e vivo. Eu o
amo tanto que é isso o que eu quero. Eu quero que ele tenha o que é melhor pra ele. Ela
suspirou. Eu só não quero ter que ficar pra assistir.
Nós precisamos falar sobre isso?
Eu acho que sim. Porque eu quero saber se eu não vou fazer isso ser pior pra você. Droga,
talvez eu até ajude. Eu não nasci um poço de compaixão. Eu costumava ser legal, sabe.
Minha memória não vai assim tão longe.
Nós dois rimos.
Eu sinto muito, Jacob. Sinto muito que você esteja sofrendo. Sinto muito que eu esteja
piorando e não ajudando.
Obrigado, Leah.
Ela pensou sobre as coisas que eram piores, as imagens negras na minha mente, enquanto
eu tentava tirá-la sem sucesso. Ela era capaz de vê-las com alguma distância, perspectiva, e eu
tenho que admitir que isso ajudava. Eu poderia imaginar que era capaz de ver daquele jeito,
também, em alguns anos.
Ela via o lado engraçado das irritações diárias de ficar com os vampiros. Ela gostou da minha
briguinha com Rosalie, rindo por dentro e até pensou em algumas piadinhas sobre loiras que eu
poderia usar. Mas então seus pensamentos ficaram sérios, fixando-se em Rosalie de um jeito que
eu me confundiu.
Sabe o que é estranho? Ela perguntou.
Bem, quase tudo é estranho agora. Mas o que você quer dizer?
Aquela vampira loira que você odeia tanto - eu a entendo perfeitamente.
Por um segundo eu pensei que ela estivesse fazendo uma piada de muito mau gosto. E
então, quando eu percebi que era sério, a fúria me invadiu e foi difícil controlar. Era bom mesmo
que nós tivéssemos nos espalhado pra vigiar. Se ela estivesse ao alcance dos meus dentes...
Fica calmo. Me deixa explicar!
Não quero escutar. Vou sair daqui.
Espera! Espera! ela implorou enquanto eu me acalmava pra me transformar de volta. Por
favor, Jake!
Leah, esse realmente não é o melhor jeito de me convencer que eu queria passar mais
tempo com você no futuro.
Aff, que reação! Você nem sabe do que eu estou falando!
Então do que você está falando?
E então ela era a mesma Leah amarga de antes. Estou falando sobre ser a última da minha
espécie, Jacob.
O teor de suas palavras me fez vacilar. Eu não esperava toda aquela raiva.
Não entendo.
Você entenderia, se você fosse como eles. Se minha "feminilidade" - ela pensou isso com um
tom muito sarcástico - não te mandasse correr pra cobrir como qualquer outro macho estúpido,
então você seria capaz de entender o que isso quer dizer.
Oh.
É, nenhum de nós gosta de pensar sobre essas coisas com ela. Quem gostaria? Claro que eu
lembro do medo de Leah no primeiro mês depois que ela se juntou ao bando - e eu me lembrei de
fugir disso, assim como qualquer outro. Porque ela não podia ficar grávida - a não ser que alguma
coisa muito estranha estivesse acontecendo, ou um milagre. Ela não teve ninguém desde Sam. E
agora, quando as semanas voaram e nada se transformou em nada mais que nada, ela percebeu
que o corpo dela não estava mais seguindo os padrões normais. O medo - o que ela era agora? O
corpo dela teria mudado porque ela virou um lobisomem? Ou ela virou um lobisomem porque o
corpo dela era errado? A única lobisomem fêmea da história. Seria por que ela não era tão fêmea
quanto deveria ser?
Nenhum de nós queria ter que lidar com aquilo. Obviamente, não era como se pudéssemos
compreender.
Você sabe porque Sam acha que nós temos a impressão, ela pensou, mais calma.
Claro. Pra manter a linhagem.
Certo. Pra fazer mais um bando de pequenos lobisomens. Sobrevivência das espécies,
perpetuar genes. Nós temos a impressão com a pessoa que é melhor capacitada a passar o gene
de lobo.
Eu esperei que ela me dissesse onde queria chegar.
Se eu fosse boa pra isso, Sam teria tido a impressão comigo.
A dor dela era tão grande que eu perdi o ritmo dos passos.
Mas eu não sou. Tem algo de errado comigo. Eu não tenho a capacidade de passar o gene,
aparentemente, apesar dos meus laços de sangue. Então eu virei a esquisita - a garota lobisomem
- boa pra mais nada. Eu sou a última da minha linhagem e nós dois sabemos disso.
Nós não sabemos, eu argumentei. Essa é a teoria de Sam. A impressão acontece, mas nós
não sabemos porque. Billy acha que tem algo a mais.
Eu sei, eu sei. Ele pensa que a gente tem a impressão pra fazer lobos mais fortes. Porque
você e Sam são monstruosos - maiores que seus pais. Mas também, eu não sou mais uma
candidata. Eu estou... Estou na menopausa. Eu tenho vinte anos de idade e estou na menopausa.
Ugh. Eu não queria mesmo ter aquela conversa. Você não sabe, Leah. Talvez seja por causa
de não envelhecer. Quando você sair da sua forma de lobo e começar a envelhecer de novo, eu
tenho certeza que as coisas vão... er... voltar ao normal.
Eu poderia pensar nisso - a não ser que alguém tenha uma impressão comigo, não haverá
mais do meu impressionante pedigree. Sabe, ela prosseguiu pensativa, se você não estivesse por
perto, Seth provavelmente teria a melhor condição de ser Alpha - por causa do sangue, pelo
menos. Claro, ninguém jamais me consideraria...
Você realmente quer ter uma impressão, ou sofrer uma impressão, ou qualquer coisa?
Perguntei. O que há de errado em se apaixonar como uma pessoa normal, Leah? A impressão é
apenas um outro jeito de ter suas escolhas tiradas de você.
Sam, Jared, Paul, Quil... eles não parecem se importar.
Nenhum deles tem pensamento próprio.
Você não quer ter uma impressão?
Droga, não!
Mas isso é porque você está apaixonado por ela. Isso vai passar, sabe, se você tiver uma
impressão. Você não vai mais se magoar por causa dela.
Você quer esquecer o jeito que você se sente por Sam?
Ela ponderou por um momento. Eu acho que sim.
Eu suspirei. Ela estava mais sã que eu.
Mas voltando ao assunto, Jacob. Eu entendo porque a vampira loira é tão fria - no sentido
figurado. Ela está focada. Ela está com os olhos no prêmio, certo? Pode você sempre quer mais
aquilo que você jamais poderia ter.
Você agiria como a Rosalie? Você mataria alguém - porque é o que ela está fazendo - você
faria isso pra ter um bebê? Desde quando você é uma procriadora?
Eu só quero as opções que eu não tenho, Jacob. Talvez, se não houvesse nada de errado
comigo, eu nunca pensaria nisso.
Você mataria por isso? Eu perguntei, não deixando-a fugir da pergunta.
Não é o que ela está fazendo. Eu acho que é mais como se ela estivesse vivendo como uma
beata. E... se a Bella me pedisse pra ajudá-la com isso... Ela fez uma pausa, considerando. Mesmo
embora eu não pensasse muito nela, eu provavelmente faria o mesmo que a sugadora de sangue.
Um estrondoso rosnado surgiu em minha garganta.
Porque se fosse o contrário, eu ia querer que a Bella fizesse isso por mim. E Rosalie pensa
assim. Nós faríamos a mesma coisa.
Ugh! Você é tão ruim quanto eles!
É a parte engraçada em saber que você não pode ter uma coisa. Faz você se desesperar.
E... é o meu limite. Aqui mesmo. Essa conversa acabou.
Tá bem.
Não era o bastante que ela concordasse em parar. Eu queria uma coisa mais definitiva que
aquilo.
Eu estava a aproximadamente dois quilômetros de onde eu tinha deixado minhas roupas,
então eu me transformei em humano de novo e caminhei. Eu não pensei sobre a conversa. Não
porque não houvesse mais nada pra se pensar sobre isso, mas porque eu não podia pensar
naquilo. Eu não veria daquela maneira - mas era difícil não fazê-lo quando Leah colocou seus
pensamentos e emoções na minha cabeça.
É, eu não estava correndo com ela quando aquilo acabou. Ela poderia ser infeliz em La Push.
Um pequeno comando Alpha antes que eu deixasse não mataria ninguém. Era realmente cedo
quando eu cheguei na casa. Bella provavelmente ainda estaria dormindo. Eu colocaria a minha
cabeça pra dentro, veria o que estava acontecendo, daria a eles o sinal verde pra ir caçar, e então
encontraria um monte de grama macia o suficiente pra dormir. Eu não me transformaria de novo
enquanto Leah estivesse acordada.
Mas havia um monte de resmungos dentro da casa, então talvez Bella não estivesse
dormindo. E então eu escutei o som das máquinas escada acima - o raio-x? Ótimo. Parecia que o
dia número quatro da contagem regressiva estava começando com um estrondo.
Alice abriu a porta pra mim antes que eu pudesse entrar.
Ela concordou. - Hei, lobo.
- Hei, pequenininha. O que está acontecendo lá em cima? - A grande sala estava vazia - os
murmúrios vinham do segundo andar.
Ela encolheu seus ombros pontudos. - Talvez tenha sido outra fratura. - Ela tentou parecer
casual, mas eu podia ver as chamas no fundo de seus olhos. Edward e eu não éramos os únicos
que estavam queimando por causa disso. Alice amava a Bella também.
- Outra costela? - Eu perguntei.
- Não. Bacia dessa vez. - Engraçado como aquilo continuava me machucando, como se cada
novidade fosse uma surpresa. Quando eu ia parar de ser surpreendido? Cada novo desastre
parecia meio que óbvio depois que acontecia.
Alice estava olhando pras minhas mãos, vendo-as tremer.
Então nos ouvimos a voz de Rosalie lá em cima.
- Veja, eu te disse que não tinha ouvindo um estalido. Você precisa lavar as orelhas, Edward.
Não houve resposta.
Alice fez uma careta. - Edward vai acabar fazendo a Rosalie em pedacinhos, eu acho. Eu
estou surpresa que ela ainda não tenha percebido. Ou talvez ela ache que Emmett vai ser capaz
de pará-lo.
- Eu pego o Emmett - eu ofereci. - Você pode ajudar o Edward com a parte de picar.
Alice deu um sorriso amarelo.
A procissão desceu as escadas então - Edward carregava Bella dessa vez. Ela estava
carregando seu copo de sangue com as duas mãos, e o rosto dela estava branco. Eu podia ver
que, embora ele compensasse cada mísero movimento de seu corpo pra não movimentá-la, ela
estava sentindo dor.
- Jake - ela suspirou, e ela sorriu apesar da dor.
Eu olhei pra ela, sem dizer nada.
Edward colocou Bella cuidadosamente no sofá e sentou no chão perto dela. Eu imaginei
brevemente porque eles não a deixavam lá em cima, e então concluí que devia ser coisa da Bella.
Ela queria agir como se as coisas estivessem normais, evitar o clima de hospital. E ele a estava
fazendo a vontade dela. Naturalmente.
Carlisle desceu devagar, o último, seu rosto tenso de preocupação. Isso o fez parecer velho
o bastante pra ser médico.
- Carlisle - eu disse. - Nós fomos até metade do caminho pra Seattle. Não havia sinal do
bando. Vocês podem ir.
- Obrigado, Jacob. É uma boa hora. É o que precisamos. - Os olhos negros dele olharam o
copo que Bella segurava forte.
- Honestamente, eu acho que é seguro vocês irem em mais de três. Eu tenho certeza que
Sam está concentrado em La Push.
Carlisle balançou a cabeça, concordando. Eu fiquei surpreso quão fácil ele aceitou meu
conselho. - Se você acha. Alice, Esme, Jasper, e eu vamos. Então Alice pode ficar no lugar de
Emmett e Rosa-
- Sem chance - Rosalie disse. - Emmett pode ir com você agora.
- Você devia caçar - Carlisle disse com uma voz gentil.
O tom dele não fez o dela baixar. - Eu vou quando ele for - ela grunhiu, apontando a sua
cabeça pra Edward e jogando o cabelo pra trás.
Carlisle suspirou.
Jasper e Emmett desceram as escadas como um flash, e Alice se juntou a eles perto da
porta de vidro dos fundos no mesmo instante. Esme deslizou para o lado de Alice.
Carlisle pôs a mão no meu braço. O toque gelado não foi legal, mas eu não o desviei. Eu
fiquei parado, meio porque estava surpreso, e meio porque não queria ferir os sentimentos dele.
- Obrigado - ele disse de novo, e então saiu pela porta junto com os outros quatro. Meus
olhos os seguiram até que eles cruzassem o gramado e desaparecessem antes que eu pudesse
respirar de novo. Eu respirei de novo. As necessidades deles deviam ser mais urgentes do que eu
esperava.
Não houve barulho por um minuto. Eu podia sentir alguém olhando pra mim, e eu sabia
quem devia ser. Eu estava planejando sair e dormir um pouco, mas a chance de arruinar a manhã
de Rosalie me pareceu mais tentadora.
Então eu fui até a poltrona perto da que Rosalie estava sentada, me espreguiçando de modo
que minha cabeça estivesse inclinada na direção de Bella e meus pés perto do rosto de Rosalie.
- Ew. Alguém coloca o cachorro pra fora - ela resmungou, tapando o nariz.
- Você já ouviu essa, psicopata? Como o neurônios de uma loira morre?
Ela não disse nada.
- Não? - Eu perguntei. - Você conhece a piada ou não?
Ela olhou diretamente pra tv e me ignorou.
- Ela ouviu isso? - Eu perguntei pro Edward.
Não havia graça em seu tenso rosto - ele não tirou seus olhos de Bella. Mas disse, - Não.
- Incrível. Então você vai gostar dessa, sugadora de sangue - os neurônios de uma loira
morrem sozinhos.
Rosalie não olhou pra mim. - Eu matei umas mil vezes mais que você, sua besta nojenta.
Não esqueça disso.
- Um dia, Rainha da Beleza, você vai ficar cansada de só me ameaçar. Eu espero
ansiosamente por isso.
- Chega, Jacob - Bella disse.
Eu olhei pra baixo, e ela estava franzindo a testa pra mim. Parecia que o bom humor de
ontem tinha ido embora há tempos.
Bom, eu não queria chateá-la. - Você quer que eu saia? - Eu ofereci.
Antes que eu pudesse esperar - ou temer - que ela finalmente tivesse se cansado de mim,
ela piscou, e sua cara feia sumiu.. Ela pareceu completamente chocada que eu tivesse chegado a
essa conclusão. - Não! Claro que não!!
Eu suspirei, e ouvi Edward suspirar baixinho também. Eu sabia que ele queria que ela tivesse
me esquecido, também. Um azar que ele nunca pedisse a ela que fizesse algo que a fosse deixar
infeliz.
- Você parece cansado - Bella falou.
- Morto - eu admiti.
- Eu gostaria de te matar - Rosalie resmungou, baixo demais pra Bella escutar. Eu só me
afundei na cadeira, ficando mais confortável. Meu pé descalço balançou perto de Rosalie, e ela
ficou dura. Depois de alguns minutos, Bella pediu a Rosalie que enchesse seu copo. Eu senti o
vento quando Rosalie voou pelas escadas pra pegar mais sangue. Foi bem silencioso. Melhor eu
dar um cochilada, pensei.
Então, Edward disse, - Você disse alguma coisa? - num tom confuso. Estranho. Porque
ninguém disse nada, e porque a audição de Edward era tão boa quanto a minha, e ele devia saber
disso.
Ele estava olhando pra Bella, e ela estava olhando de volta. Eles dois pareciam confusos.
- Eu? - ela disse, depois de um segundo. - Eu não disse nada.
Ele ficou de joelhos, ficando na frente dela, sua expressão repentinamente intensa de um
jeito bem diferente. Seus olhos negros olharam pra ela.
- No que você está pensando agora?
Ela olhou pra ele supressa. - Nada. O que está acontecendo?
- No que você estava pensando a um minuto atrás? - Ele perguntou.
- Só... na Ilha de Esme. E nas penas.
Eu não entendi nada, mas ela ficou corada, e eu entendi que era melhor não saber de nada
mesmo.
- Diga mais alguma coisa - ele sussurrou.
- Como o que? Edward, o que está acontecendo?
O rosto dele mudou de novo, e ele fez uma coisa que fez com que eu ficasse boquiaberto.
Eu ouvi alguém ofegar atrás de mim e soube que Rosalie estava de volta, perplexa quanto eu.
Edward, bem devagar, pôs ambas as mãos na barriga de Bella.
- O c- ele engoliu seco. - Isso... o bebê gosto do som da sua voz.
Havia um silêncio mortal. Eu não podia mover um músculo, nem mesmo piscar. Então –
- Deus do Céu, você pode escutá-lo! - Bella gritou. No segundo seguinte, ela arrepiou-se.
A mão de Edward moveu-se pro topo da barriga e gentilmente acariciou o lugar onde o bebê
havia chutado.
- Shh - ele resmungou. - Você o agitou...
Os olhos dela se arregalaram ficaram maravilhados. Ela passou a mão na barriga.
- Desculpe, bebê.
Edward estava ouvindo, os olhos fixados no volume da barriga.
- No que ele está pensando agora? - Ela perguntou ansiosa.
- Ele... ele ou ela, está... - Ele parou e olhou nos olhos dela. Os olhos dele com um terror
conhecido - ele apenas estava cuidadoso e ressentido. - Ele está feliz - Edward disse com uma voz
incrédula.
A respiração dela falhou, e era impossível não ver o brilho fanático em seus olhos. A
adoração e a devoção. Grandes e espessas lágrimas rolaram de seus olhos e silenciosamente
escorreram pelo seu rosto e seu sorriso.
Quando ele olhou pra ela, seu rosto não estava com medo ou com raiva ou queimando ou
qualquer uma das expressões que ele carregava desde seu retorno. Ele estava maravilhado com
ela.
- Claro que você está feliz, bebêzinho, claro que você está - ela cantarolou, acariciando a
barriga enquanto as lágrimas escorriam pelas suas bochechas. - Como você poderia não estar, a
salvo e quentinho e amado? Eu amo muito você, pequeno EJ, claro que você está feliz.
- De que você o chamou? - Edward perguntou, curioso.
Ela corou de novo. - Eu meio que dei um nome pra ele. Eu não achei que você quisesse...
bom, você sabe.
- EJ?
- O nome do seu pai era Edward também.
- Sim, era. O que -? - Ele parou e então disse - Hmm.
- O que?
- Ele gosta da minha voz também.
- Claro que gosta. - O tom dela estava quase maldoso agora. - Você tem a voz mais linda do
universo. Quem não amaria?
- Você tem um plano B? - Rosalie perguntou então, encostando atrás do sofá com o mesmo
pensamento maldoso de Bella. - E se ele for ela?
Bella enxugou as lágrimas sob seus olhos. - Eu estive pensando numas coisas. Brincando
com Renée e Esme. Eu estava pensando Ruh-nez-may.
- Ruhnezmay?
- R-e-n-e-s-m-e-e. Muito esquisito?
- Não, eu gosto - Rosalie assegurou. As cabeças elas estavam juntas, ouro e mogno. - É
lindo. E um de cada espécie, então fica legal.
- Eu ainda acho que é um Edward.
Edward estava olhando pro espaço, sua cabeça longe, quando ele ouviu.
- O que? - Bella perguntou. - O que ele está pensando agora?
Ele não respondeu de primeira, e então - chocando o resto de nós de novo, três ofegas
distintas - ele colocou sua orelha ternamente na barriga dele.
- Ele ama você - Edward sussurrou, parecendo ofuscado. - Ele definitivamente adora você.
Naquele momento, eu sabia que estava sozinho. Totalmente sozinho.
Eu quis me chutar quando eu percebi o quanto eu estive contando com aquele vampiro
repugnante. Que estúpido - como se eu pudesse confiar num sanguessuga! Claro que ele ia trair
no final.
Eu contei com ele do meu lado. Contei que ele sofreria mais do que eu. E, acima de tudo, eu
contei que ele odiasse aquela coisa que estava matando a Bella mais do que eu odiava.
Eu confiei nele.
Mas agora eles estavam juntos, os dois curvados sobre o amigável, invisível monstrinho com
seus olhos claros como uma família feliz.
E eu estava sozinho com ódio e meu sofrimento que eram tão ruins quanto ser torturado.
Como ser colocado lentamente numa cama de lâminas afiadas. Doendo tanto que você morreria
com um sorriso, só praquela dor ir embora.
O calor destravou meus músculos, e eu fiquei em pé.
Todos três olharam pra mim, e eu vi a minha dor pelo rosto de Edward quando ele invadiu a
minha mente de novo.
- Ahh - ele abafou.
Eu não sabia o que eu estava fazendo; eu fiquei ali, tremendo, pronto pra fugir na primeira
oportunidade que eu tivesse.
Movendo-se como uma cobra, Edward arremessou-se pra uma mesinha e tirou alguma coisa
da gaveta. Ele jogou aquilo pra mim, e eu peguei o objeto num reflexo.
- Vá, Jacob. Saia daqui. - Ele não disse isso de um jeito duro - ele disse aquilo como se fosse
um preservador da vida. Ele me ajudou encontrar a saída que eu estava procurando.
O objeto que ele me deu era um chaveiro com chaves de um carro.
(heloisa santos)
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